Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Pesquisa estima regiões de corais com maior probabilidade de branqueamento até 2100
- Mudanças mais drásticas estão previstas para ocorrer nos próximos 30 anos
- Corais do litoral da Bahia, de Salvador até Abrolhos, será região mais atingida pelo branqueamento
O aquecimento dos oceanos nas próximas décadas deve intensificar o branqueamento dos corais da costa brasileira. Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostra que o litoral do sudeste e sul se tornará mais adequado aos corais com a elevação da temperatura oceânica dos próximos 80 anos. No entanto, áreas que hoje são projetadas como pouco vulneráveis ao branqueamento sofrerão redução de 50% até 2050. A análise está descrita em artigo publicado na sexta (25) na revista “Scientific Reports” do grupo Nature publicada no Reino Unido.
Com uso de modelos matemáticos, os pesquisadores projetaram os lugares de ocorrência, a abundância e as probabilidades de branqueamento de corais no Atlântico Sul Ocidental, projetando mudanças nestas estimativas sob um cenário de alta emissão de carbono. De acordo com relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima (IPCC), esse cenário seria de aumento de até 3 graus celsius na temperatura nos oceanos nesta região. Com base em dados obtidos de estudos publicados entre 1993 e 2017, os pesquisadores conseguiram projetar o cenário atual de probabilidade de ocorrência, abundância e branqueamento de corais e gerar previsões para os anos de 2050 e 2100.
Mudanças mais drásticas já estão previstas para ocorrer a partir de 2050. Os pesquisadores estimam que a região da Bahia, desde Salvador até a região dos Abrolhos, será a mais afetada pelo branqueamento nos próximos 30 anos, o que poderia prejudicar a biodiversidade e, em consequência, o turismo e a pesca da região. Em contrapartida, regiões hoje pouco habitadas por corais, como sul e sudeste, podem se tornar seu novo habitat.
Famosos por sua beleza de cores, os corais são bastante sensíveis à temperatura dos oceanos, segundo explica Jessica Bleuel, uma das autoras do estudo resultado do seu mestrado. “A temperatura média confortável para eles é entre 18 e 28 graus Celsius. Temperaturas mais elevadas rompem a associação entre corais e microalgas, responsáveis pela sua cor e sua principal fonte de alimento. Neste estágio, o esqueleto do coral fica visível através do tecido transparente, revelando a cor branca”, explica a pesquisadora. O fenômeno é conhecido como branqueamento dos corais.
Com as projeções de ocorrência dos corais no litoral brasileiro, se pode preparar ambientes do sudeste e sul para a chegada de novos habitantes. “Como não é possível reduzir a temperatura do mar em um intervalo de tempo tão curto, podemos evitar a poluição e proteger lugares contra pesca, poluição e turismo excessivos”, sugere Bleuel.
Guilherme Longo, também autor do estudo, destaca que não existe solução para o branqueamento dos corais. “Os tratamentos ainda são muito experimentais e não há como aplicar uma solução em escala compatível”, comenta. Assim, os pesquisadores ressaltam a necessidade de agir de forma preventiva, minimizando os efeitos desse fenômeno através da redução da emissão de gases de efeito estufa e diminuição de impactos locais sobre os corais. Ele também ressalta que 30% das espécies de corais presentes no Brasil são endêmicas, ou seja, só existem por aqui.