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Elisa Tobias*
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Assim como aqueles que querem dirigir devem passar por um processo de formação com aulas teóricas e práticas, a educação também é importante para quem pretende navegar pelas redes sociais. Isso é o que recomenda a Associação Americana de Psicologia (APA) em um estudo recém-divulgado.
Segundo a APA, as plataformas digitais não são essencialmente benéficas ou prejudiciais para a juventude. Os efeitos dependem das características pessoais e psicológicas das crianças e dos adolescentes e das circunstâncias sociais envolvidas nos usos que se fazem delas.
A capacitação recomendada pela associação é a media literacy, termo que pode ser traduzido como letramento ou educação midiática. Trata-se de um conjunto de habilidades para analisar, avaliar e criar de forma crítica e responsável conteúdos de mídia. Tal conhecimento torna-se urgente quando consideramos que crianças e adolescentes precisam saber identificar conteúdos imprecisos, lidar com a desinformação e nutrir relacionamentos saudáveis ao fazerem uso das plataformas digitais.
Em um mundo cada vez mais conectado, também é preciso que os adolescentes sejam capazes de se comunicarem com segurança, reconhecerem mensagens preconceituosas, questionarem a representatividade dos conteúdos e identificarem sinais de uso irresponsável das redes sociais. Essas habilidades exploradas pela educação midiática podem e devem ser desenvolvidas no ambiente escolar.
Em outras palavras, a influência será resultado do que eles estão preparados para produzir e consumir online, de seus pontos fortes ou vulnerabilidades preexistentes, dos contextos em que cresceram e do ambiente familiar. O ideal é que a mediação entre telas, crianças e adolescentes seja feita considerando o nível de maturidade e desenvolvimento de cada faixa etária.
É importante ressaltar que as interações que crianças e adolescentes realizam na internet podem ser positivas para a saúde mental. Embora o bullying e o assédio também estejam presentes nestes ambientes, é nas plataformas que muitos encontram grupos de apoio, discussão e socialização. Quando informações confiáveis e checadas são divulgadas, os benefícios são inúmeros, independentemente da idade.
E é especialmente no início da adolescência que a relação jovem e redes sociais requer mais atenção. Nesse período, segundo estudos nos quais se baseiam a Associação Americana de Psicologia, as regiões do cérebro associadas ao desejo de atenção, opinião e reforço dos colegas tornam-se cada vez mais sensíveis. O monitoramento das famílias e o estabelecimento de limites adequados ao desenvolvimento são fundamentais nesse período.
Em casos críticos, o ideal é buscar apoio profissional. Crianças e jovens que estejam em sofrimento emocional podem encontrar apoio no Sistema Único de Saúde (SUS). Outra alternativa são as universidades, centros de estudo e projetos voluntários que costumam oferecer atendimento com preços reduzidos.
Diante dessas orientações, é importante que familiares conversem sobre o assunto com as crianças e adolescentes e analisem: eu sei o que ele ou ela acessa diariamente? Com quem estão conversando? Há algum limite no tempo de uso? Já busquei informações ou capacitações para tratar do assunto? São alguns dos questionamentos que responsáveis devem se fazer de forma atenta e contínua.
Que a frase da psicóloga norte-americana Lisa Damour, em declaração recente a um programa de TV da CBS, nos sirva de reflexão: “as redes sociais por si só não são boas nem ruins. O uso problemático e excessivo é que envolve crianças em um ambiente online tóxico”.
*Elisa Tobias é educomunicadora e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta