Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Daniela Machado. Para acessar, clique aqui.
*Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, o programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta
Nos últimos anos, com a proliferação das chamadas “fake news”, cresceu também a percepção na sociedade de que algo deveria ser feito. Entre as iniciativas intensamente debatidas estão projetos sobre a responsabilidade das plataformas de redes sociais, a punição dos autores de desinformação e novas formas de checagem de dados, imagens e mensagens. Mas algo mais estrutural vem acontecendo — ainda que a passos tímidos — na esfera da educação.
É crescente o número de educadores interessados em incorporar a suas práticas pedagógicas temas ligados a cidadania e cultura digital, leitura crítica de informações, autoexpressão responsável e uso seguro da internet. Ainda que boa parte desses assuntos já esteja na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), servindo de norte para a elaboração de currículos no Brasil, novas tecnologias que alteram a forma como nos comunicamos e aprendemos surgem diariamente e demandam o olhar cuidadoso de professores e gestores.
É urgente incorporar ao dia a dia das escolas reflexões e atividades que ajudem os estudantes a fazer um uso mais qualificado dos ambientes digitais, entendendo, inclusive, em quais momentos e com que propósito devemos utilizá-los.
Precisamos de mais holofotes sobre quem já vem atuando nesse sentido, para que inspirem outras pessoas. É o caso do Professor Noslen, premiado esta semana pelo YouTube como destaque na categoria Educação Midiática. Noslen é dono do maior canal de ensino de língua portuguesa da plataforma, com mais de 4,5 milhões de inscritos, e tem procurado sensibilizar sua audiência para a importância da leitura crítica de informações, entre outros temas.
No ano passado, produziu a série “Sai do Óbvio” e abriu espaço no primeiro episódio a uma ampla discussão sobre “fake news” e algumas estratégias para evitá-las. De maneira bem-humorada e com uma linguagem acessível, o Professor Noslen conecta-se com uma audiência que, cada vez mais, está mergulhada na cultura digital sem que, necessariamente, tenha parado para refletir sobre o que isso significa.
Há outros vários exemplos de educadores que buscam conectar a sala de aula com a realidade de crianças e adolescentes, incorporando em suas aulas assuntos, linguagens e formatos cativos da internet. No EducaMídia, programa do Instituto Palavra Aberta, um curso gratuito para quem quer multiplicar a educação midiática, adaptando-a a seu contexto e região, já contou com mais de 5 mil participantes desde 2020. Outras iniciativas, como SaferNet, oferecem formações e materiais que também buscam preparar a sociedade para a superabundância de informações a que estamos expostos diariamente.
Nossa torcida é para que mais e mais pessoas trabalhem pela educação midiática, entendendo esse conjunto de habilidades como um direito de todos.
Quanto mais professores e professoras incorporarem camadas de educação midiática às suas práticas pedagógicas, mais cedo teremos gerações conscientes dos desafios do mundo conectado e, portanto, preparadas para lidar com ele. Políticas públicas que impulsionem o tema na formação inicial e continuada dos educadores é urgente se assumirmos que a cidadania digital é um direito de todos.
*Imagem: arquivo pessoal