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Patricia Blanco*
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A virada do ano é sempre um momento oportuno para fazermos um balanço de nossas conquistas e frustrações. Mas é também tempo de traçar estratégias para que novas e importantes metas sejam alcançadas. Para o Instituto Palavra Aberta, que tem como missão defender a liberdade de expressão, educação e imprensa são dois temas que precisam ser acompanhados com muita atenção em 2023.
Ao longo deste ano, vivemos momentos de tensão e afloramento do ambiente hostil em relação ao trabalho de jornalistas e comunicadores em geral, além de inúmeros desafios relacionados ao entendimento do que é liberdade de expressão. Aliás, o próprio conceito desse direito fundamental foi apropriado indevidamente e utilizado para a prática de atos criminosos e como ferramenta para a disseminação de discurso de ódio, intolerância e desinformação. Esta última, amplamente usada como estratégia política por muitos candidatos tanto no período eleitoral como nas semanas seguintes.
Na educação, ainda sob o efeito negativo causado pela pandemia de Covid, houve alguns avanços, mas ainda bem longe do ideal, principalmente pelo distanciamento entre a prática atual e a falta de conexão com temas relevantes da atualidade — como o olhar crítico para o consumo e a produção de mídias.
Olhando para trás, 2022 foi um ano de muitos ensinamentos e de descobertas. Vimos crescer o questionamento às instituições e as narrativas falaciosas em relação à lisura do processo eleitoral. Vimos a proliferação de teorias conspiratórias e o questionamento ao papel dos poderes constituídos. Mas vimos também crescer a resiliência e a crença na democracia, assim como o interesse por áreas importantes do conhecimento como o desenvolvimento científico e a análise crítica da informação.
Se considerarmos o ambiente um pouco menos turbulento na área política e, por consequência, para o jornalismo, a expectativa é que 2023 seja um ano de reconstrução das relações e da confiança nas instituições. Mais ainda, com o início do novo governo, abre-se a possibilidade da criação de um novo ciclo, que aproveite as oportunidades geradas para implantar políticas públicas que impactem positivamente a vida dos cidadãos brasileiros.
Assim, educação de qualidade e imprensa forte podem contribuir para o desenvolvimento do país. As duas áreas estão interligadas e, com seu fortalecimento, tendem a reforçar também a democracia. Isso porque uma educação que leve em conta as responsabilidades de cada um ao lidar com a informação ajuda no entendimento do papel da imprensa — e até na cobrança para que esse trabalho seja sempre aprimorado.
É o caso da adoção da educação midiática de forma transversal nas escolas para que os jovens possam acessar, analisar, criar e participar do ambiente informacional com responsabilidade e senso crítico. É preciso explorar o fato de que, embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) abrigue parte de sua aprendizagem em Língua Portuguesa (no campo de atuação jornalístico-midiático), a educação midiática pode ser entendida como uma camada transdisciplinar que torna a aprendizagem mais significativa para o aluno.
Para pavimentar esse caminho de forma mais acelerada, é preciso vontade política e disposição de efetivar parcerias entre governos, com organizações do terceiro setor e com a iniciativa privada. Portanto, é hora de encarar a educação midiática e o fortalecimento da imprensa responsável como pilares fundamentais de uma sociedade mais justa e democrática. Sem acesso a informações confiáveis e sem o senso crítico para interpretá-las corremos o risco de perpetuar o cenário de desinformação e discurso de ódio que já cansamos de ver nos últimos anos.
Aproveito esta última coluna do ano para desejar boas festas e um excelente 2023. Estaremos de volta no dia 12 de janeiro.
*Patricia Blanco é presidente do Instituto Palavra Aberta