Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio por Adrielly Araújo. Para acessar, clique aqui.
Foi para incentivar o pensamento crítico e melhorar a participação de estudantes das escolas públicas em sala de aula que, em 2006, as Histórias em Quadrinhos (HQs) passaram a fazer parte dos títulos adquiridos e distribuidos pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE).
De acordo com o Ministério da Educação, a leitura de obras em quadrinhos demanda um processo bastante complexo. Texto, imagens, balões, ordem das tiras e onomatopeias contribuem significativamente para a independência do leitor na interpretação dos textos lidos. Além disso, o universo dos quadrinhos faz parte das experiências cotidianas juvenis do leitor, suscitando emoções prazerosas, como o humor, o suspense, a aventura etc.
“Utilizar as HQs como ferramenta pedagógica tem como objetivo proporcionar aos estudantes algo que torne o aprendizado mais prazeroso, rompendo com a formalidade que ainda predomina na maioria das salas de aula. O momento de aprendizagem torna-se leve e, ao mesmo tempo, aproxima conteúdos específicos de um universo conhecido dos adolescentes, que é a leitura de quadrinhos”, explica a bióloga Rosicleide Mota Brandão.
Rosicleide é autora da dissertação Tirinhas de Quadrinhos: uma linguagem lúdica para a abordagem da temática socioambiental no ensino médio, defendida em 2020, no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, orientada pelas professoras Danielly Brito de Oliveira e Jussara Moretto Martinelli Lemos.
Aula prática aproxima conceitos da realidade dos estudantes
O principal objetivo da pesquisa foi analisar o resultado da aplicação de uma aula prática, utilizando espaços não formais de ensino e utilizando tirinhas em quadrinhos para promover o diálogo e a problematização no contexto da educação ambiental em meio à realidade local. O trabalho foi baseado em um estudo de caso com uma turma de alunos do ensino médio da Escola João Carlos Batista, localizada no bairro Quarenta Horas, em Ananindeua (PA).
Primeiramente, em sala de aula, houve uma introdução a conceitos importantes da temática socioambiental (como impactos ambientais, preservação e sustentabilidade), associada ao cotidiano e às vivências dos estudantes. “Depois da aula, eles visitaram o Rio ‘40 horas’ e, então, fomentamos a discussão envolvendo os temas socioambientais discutidos, juntamente com o levantamento realizado ao longo do trajeto, no qual os estudantes tomaram nota de suas impressões, observações das condições ambientais locais”, relata a autora do estudo.
Posteriormente, a turma elaborou as histórias em quadrinhos com base nas experiências de ensino-aprendizagem vivenciadas. Segundo Rosicleide Brandão, as atividades propostas possibilitaram o estabelecimento de relações entre os conteúdos estudados e os acontecimentos cotidianos, estimulando os estudantes a contextualizarem alguns problemas ambientais, contribuindo, de forma satisfatória, para a consolidação de conhecimentos.
Dissertação gerou guia que pode ser usado por outros professores
A produção das tirinhas proporcionou a sensibilização dos estudantes sobre a temática, bem como a conscientização ambiental da inter-relação com o meio ambiente. “Infelizmente a atividade de construção das tirinhas evidenciou a fragilidade da redação dos estudantes, com muitos erros gramaticais, expondo o quanto ainda temos que melhorar para modificar essa gravíssima situação”, conta Rosicleide Mota Brandão.
A pesquisa ainda gerou um guia que aborda a temática socioambiental utilizando tirinhas em quadrinhos. “Assim, professores que tiverem interesse encontrarão no guia didático todos os passos para a execução da atividade, podendo adequá-la a diversos contextos. É um passo a passo que pode facilitar a rotina dos docentes, assim como estimular a promoção de uma aula mais dinâmica e participativa”, explica a bióloga. O guia didático será disponibilizado gratuitamente ao público após ser publicado por alguma editora que tenha interesse no material.
“A realização da pesquisa proporcionou uma enorme experiência e um olhar abrangente para as diversas formas de ensinar, além da vontade de continuar buscando melhorias na qualidade do ensino. Enfatizo também o interesse dos estudantes realizando as atividades, superando obstáculos, dando um valioso retorno das tarefas propostas e sendo protagonistas do processo de ensino-aprendizagem”, conclui a pesquisadora.
Beira do Rio edição 159