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Por Leonardo Lima
Esta semana, vem sendo disseminado em sites e perfis de redes sociais de direita, publicações que alegam que “economista da ONU disse que o governo Bolsonaro salvou o mundo de uma crise global de alimentos”. E o ministro da Economia, Paulo Guedes, também chegou a fazer afirmações na terça-feira (14/6) neste sentido, o que repercutiu por vários canais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A COAR apurou e aponta que o conteúdo é impreciso, pois a frase foi tirada de contexto.
Nas redes sociais, publicações com o conteúdo somam milhares de compartilhamentos. As interações começaram após o artigo de opinião, intitulado de “Como o Brasil está salvando o mundo de uma crise alimentar catastrófica”, ser publicado na versão brasileira do site americano de direita Epoch Times, no dia 7 de junho, assinado pelo professor de direito Augusto Zimmermann.
O site, por sua vez, possui um histórico partidário e apoiou Donald Trump nas eleições de 2016 nos EUA, e vem atuando como uma máquina de desinformação em escala global.
No artigo, Zimmermann cita que o governo brasileiro “salvou o mundo de uma catastrófica crise alimentar”, usando como referência para embasar e tirando de contexto a declaração feita por Josef Schmidhuber, economista que estudou o impacto do conflito – gerado pelas sanções à Rússia após invadir a Ucrânia – sobre os alimentos para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
No entanto, a COAR verificou que a declaração feita pelo economista foi veiculada originalmente em uma matéria do jornal americano The New York Times, do dia 8 de maio, que tratava sobre a compra de fertilizante russo pelo Brasil, no contexto das sanções econômicas impostas à Rússia devido a guerra.
E na matéria, Josef Schmidhuber, diz o seguinte: “Se o Brasil recuasse no ano que vem por causa da falta de fertilizantes, certamente seria uma má notícia para uma crise global de alimentos”. Não explicitando em nenhum momento que o governo brasileiro teria sido o responsável por salvar o mundo de uma crise global alimentar.
Também no artigo do Epoch Times e nas legendas das publicações com o conteúdo, é afirmado que o Brasil “é o quarto maior produtor de alimentos do mundo”, porém erra ao generalizar e não informa qual pesquisa confirma essa informação. Desse modo, a COAR apurou que de acordo com o estudo divulgado em 2021 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil é, na verdade, o quarto maior produtor de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo) do mundo, estando atrás apenas da China, dos Estados Unidos e da Índia. Ocupando a segunda posição dos países que mais exportam esses grãos, com 19% do mercado internacional em 2020.
Em uma outra publicação feita no Twitter pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF), ela compartilha o link da matéria de um site de direita e uma imagem contendo a mesma desinformação, na legenda, cita uma declaração que atribui à diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC): “sem o Brasil o mundo passa fome”. De acordo com a nossa verificação, essa declaração atribuída à diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, é imprecisa. Pois, em nossas pesquisas não foi encontrada nenhuma entrevista ou publicação na qual a africana fez tal afirmação literalmente.
Na realidade, a diretora-geral da OMC, disse, durante reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária em Brasília, no dia 18 de abril, que o mundo não sobrevive sem a agricultura brasileira.
“Eu sei que o mundo não sobrevive sem a agricultura brasileira. Precisamos pensar nos desafios futuros, não só do Brasil, mas do mundo todo”, disse Ngozi.
O pronunciamento foi feito devido ao receio da diretoria sobre uma possível crise alimentícia sem precedentes, provocada pela falta de alimentos, reflexo do impacto gerado pela guerra na Ucrânia que é um grande produtor de grãos. Ainda em uma outra entrevista concedida à GloboNews, a diretora-geral da OMC reafirmou que a situação de fome no continente africano pode se agravar bastante e que o Brasil possui um papel importante neste cenário, por se destacar como um dos grandes produtores de alimentos.
E durante discurso feito na IX Cúpula das Américas, em Los Angeles, no dia 10 de junho, o presidente Jair Bolsonaro errou ao afirmar que: “O Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo. Garantimos a segurança alimentar de um sexto da população mundial”. Pois, de acordo com outro estudo da Embrapa publicado em março de 2021, os dados revelaram que a produção e exportação de grãos e carne bovina brasileira foi responsável por alimentar 772,6 milhões de pessoas em todo o mundo em 2020, o que equivale a aproximadamente 10,5% da população mundial. Tal afirmação já havia sido verificada também pelo Aos Fatos.
Na contramão desse discurso, Bolsonaro não mencionou o crescimento da fome no Brasil em 2022, que atingiu a marca de 33,1 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar no país. Foi o que revelou o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar.
Referências da COAR:
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