Publicado originalmente em COVID-19 DivulgAÇÃO Científica. Para acessar, clique aqui.
Aprovada no Brasil para aplicação em menores de 18 anos, vacina da Pfizer já foi atestada por cientistas e órgãos reguladores, ao contrário de narrativas que circulam nas redes sociais
Há poucos dias, um famoso comentarista de televisão foi corrigido pela própria emissora onde trabalha depois de ter dito, ao vivo, que “jovens não precisariam tomar a vacina [contra a COVID-19], segundo as estatísticas”.
Narrativas contra a vacinação de adolescentes têm sido disseminadas também em diversas plataformas de redes sociais, como o Instagram e o Twitter. Um dos argumentos invocados é que não existiriam estudos atestando a segurança da vacinação para esse público, o que é falso.
Artigo publicado em julho de 2021 na revista científica The New England Journal of Medicine apresenta os resultados de testes clínicos realizados pela Pfizercom 2260 adolescentes de 12 a 15 anos de idade, dos quais 1131 receberam a vacina desenvolvida pela empresa e 1129 receberam uma injeção de placebo. Não houve eventos adversos graves gerais, nem relacionados à vacinação, cuja eficácia apurada foi de 100%.
“A vacina não seria licenciada sem estudo. Inclusive, hoje a licença da vacina da Pfizer não é mais emergencial. Ela foi licenciada recentemente pelo FDA [órgão regulador dos Estados Unidos] e aqui no Brasil também já tem a licença definitiva”, afirma a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a indicação da vacina da Pfizer para crianças com 12 anos de idade ou mais. Até o momento, esta é a única vacina autorizada no Brasil para aplicação em menores de 18 anos.
Efeitos adversos
Recentemente, a própria Anvisa emitiu um alerta sobre a possibilidade de ocorrência da miocardite, inflamação no tecido que envolve o coração, como um dos efeitos adversos da vacina em adolescentes e adultos jovens, especialmente do sexo masculino, o que tem levado muitas pessoas a questionarem se o risco compensa os benefícios da vacinação para esse público.
“Miocardite pode ser um efeito adverso da vacina, é verdade, mas a taxa de incidência é baixa”, assegura Ballalai. “Países como Estados Unidos e Israel mantêm a vacinação de adolescentes, entendendo que os casos ocorridos foram resolvidos, nenhum adolescente ficou com sequela, a maioria deles não foi internada”, relata.
Por outro lado, a pediatra ressalta que, embora os adolescentes não sejam considerados um grupo de risco para COVID-19, eles estão suscetíveis a desenvolver quadros graves da doença. “Principalmente aqueles com comorbidades”, lembra. A médica cita a obesidade como uma condição comum que pode aumentar a gravidade dos sintomas nessa faixa etária.
Balalai recomenda a vacinação dos adolescentes contra a COVID-19, uma vez que a imunização esteja disponível para esse grupo, especialmente neste momento, de disseminação da variante Delta.
“O CDC [Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos] comparou a capacidade de transmitir da Delta à catapora. Antes da vacinação, a catapora era causa de surto, principalmente entre crianças e adolescentes, nas escolas, nas cidades etc. É uma doença que mata pouco, mas mata, e por isso nós vacinamos”, diz.
Medidas complementares
Isabella Ballalai faz um apelo para que as pessoas entendam que, mesmo vacinadas, ainda não é hora de “voltar a viver normalmente”, e isso não se aplica somente aos jovens.
“Eu sei o que é um adolescente sem ir para a ‘balada’, mas se realmente quero proteger o meu filho, é isso que preciso fazer. Ele vai para a escola, faz algumas atividades, mas ainda não está no momento de ir para a praia com os amigos, nem ele, nem ninguém”, orienta a pediatra, que tem dois filhos nessa faixa etária. “Se temos vacina para adolescentes, vou vaciná-los”, revela.
Ela recomenda, ainda, que cuidados como o uso de máscara sejam tomados inclusive no ambiente familiar. “Não é só a população que eu não conheço que me transmite vírus. Minha família transmite, assim como meu amigo. A Delta tem capacidade de transmissão muito alta e estamos vendo famílias inteiras, grupos que chamamos de clusters, que se juntam e depois todos ficam doentes. Muitas vezes, um deles morre, e pode ser um adolescente com comorbidade”, alerta.