Publicado originalmente em Agência Lupa por Evelyn Fagundes. Para acessar, clique aqui.
Circula nas redes sociais um vídeo afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria vendido a maior reserva de urânio localizada no Amazonas para a China. É falso.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

Presidente do Brasil vendeu a maior reserva de urânio para a China
– Legenda do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
O presidente Lula não vendeu para a China uma reserva de urânio localizada no Amazonas. Recursos minerais não podem ser vendidos dessa forma, pois são protegidos pela Constituição Federal como propriedade da União. Uma empresa privada, chamada Taboca Mineradora – que administrava diversos minérios na região amazônica desde 1969 – foi vendida em novembro deste ano para um grupo empresarial chinês. No entanto, vale destacar que esse acordo comercial não tem relação com o governo federal e não permite a exploração de urânio.
No país, apenas as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), são autorizadas para extrair e processar urânio. A Lupa contatou a organização e ela afirmou que não ocorreu nenhuma venda de reserva do mineral. Além disso, a Taboca Mineradora não explora ou produz urânio, pois existem, até o momento, apenas expectativas (ainda não comprovadas) de que a região do Pitinga (AM) contenha urânio, conforme apontam estudos. Logo, também é falso que o local contenha a “maior reserva de urânio”, como alegam as publicações.
“O que aconteceu, na verdade, foi a venda de uma mina de estanho que existe no Amazonas. Uma das maiores do mundo e que tem como subproduto ferroligas de nióbio e tântalo. Além disso, a operação gera um resíduo que contém urânio, que é monitorado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Não há produção de urânio no local”, disse a INB em nota encaminhada à Lupa.
“É importante esclarecer que a jazida não pode ser considerada ‘a maior reserva de urânio no Brasil’, como publicado em veículos de comunicação. Reserva é a parte economicamente lavrável de um recurso mineral medido e/ou indicado, cuja viabilidade técnico-econômica da lavra tenha sido demonstrada por meio de estudos técnicos adequados. No local há somente uma estimativa de potencial de recursos ainda não comprovada”, disse a INB.
A Lupa monitorou que o g1 publicou, no dia 28 de novembro, que uma reserva rica de urânio foi vendida para a China. No entanto, pouco depois, no final do dia, o veículo voltou atrás e emitiu uma errata: “o g1 errou ao publicar, no título desta reportagem, que a China havia comprado uma reserva rica de urânio no interior do Amazonas. O que foi vendido aos chineses foi a empresa Mineração Taboca, que produz estanho na Mina de Pitinga. A área em que a empresa atua também contém resíduos de urânio, mas o urânio que existe nessa jazida vai para o rejeito, segundo a Indústrias Nucleares do Brasil (INB)”. A revista Exame também publicou uma nota corrigindo uma matéria publicada anteriormente com o mesmo sentido.
Segundo a INB, a região Norte do país tem potencial para abrigar mais de 300 mil toneladas de urânio, segundo estudos preliminares. “Vale destacar que o urânio é monopólio da União e só pode ser produzido pela INB. Então, mesmo que, no futuro, venha a ser confirmada a possibilidade de produção de urânio no local, esta só poderá ser feita em parceria com a INB”, disse a organização.