Publicado originalmente em Agência Lupa por Gabriela Soares. Para acessar, clique aqui.
Circula na internet um vídeo do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmando ser fã de uma mulher que o abraça, enquanto ambos posam para uma foto. Segundo a legenda da publicação, a moça é Luciane Barbosa Farias, conhecida como “primeira-dama” da facção criminosa Comando Vermelho. É falso.
Por meio do ?projeto de verificação de notícias?, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:
“Brasil: Ministro da justiça Flávio Dino diz ser fã de ‘primeira-dama’ do CV [Comando Vermelho] em vídeo que circula nas sociais nesta terça (14)”
– Texto em vídeo que, até 12h do dia 14 de novembro de 2023, havia sido visualizado por 85,7 mil usuários no Facebook
Falso
Não é a “primeira-dama do Comando Vermelho” que aparece no vídeo ao lado de Dino. Quem está nas imagens é a humorista Virgínia Álvares, que, inclusive, comentou a cena em vídeo compartilhado em seu canal no YouTube, em 27 de julho de 2023. A publicação da artista usa o título “Flávio Dino é meu fã” — em referência à fala do ministro no registro que, agora, circula de maneira enganosa nas redes. Além de fazer a postagem em seu canal no YouTube, a comediante compartilhou a cena no Instagram (1, 2 e 3).
Já Luciane Barbosa Farias, que é conhecida como “primeira-dama do tráfico amazonense”, foi condenada a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa — acusações às quais responde em liberdade. Ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, apontado como líder do Comando Vermelho no estado do Amazonas e preso desde dezembro de 2022.
Reportagem do Estadão publicada em 13 de novembro mostrou que Luciane participou de duas audiências com secretários no prédio do Ministério da Justiça, em Brasília, este ano.
As reuniões foram confirmadas em nota emitida pela pasta, que declarou ter atendido solicitações de agenda da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim). Ainda de acordo com a pasta, Luciane não teria sido a requerente dos encontros, tendo apenas acompanhado as discussões. “Era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada”, declarou o ministério ao Estadão.
Dino negou ter se encontrado com Luciane. Em coletiva de imprensa promovida na segunda-feira (13), o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, assumiu a responsabilidade pelo encontro. “A responsabilidade é integralmente minha, porque eu tenho autonomia para decidir quem eu vou receber ou quem eu não vou receber. Eu não consulto o ministro sobre isso”, disse Vaz.
Após a polêmica, o Ministério da Justiça publicou uma portaria com novas regras para a entrada de visitantes no Palácio da Justiça. A Portaria SE/MJSP nº 1.601 determina que, para solicitar uma reunião ou audiência, será necessário formalizar o pedido previamente para que possa ser avaliado pelo órgão.
Ainda segundo as novas normas, os interessados deverão encaminhar todos os nomes e CPFs dos participantes e acompanhantes da visita. As informações deverão ser encaminhadas com antecedência mínima de 48 horas da data prevista para realização da agenda.
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