É falso que Bill Gates está inserindo HIV em vacinas contra a mpox

Publicado originalmente em Agência Lupa por Ítalo Rômany. Para acessar, clique aqui.

Circula nas redes sociais o boato de que o empresário Bill Gates está inserindo o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) nas vacinas contra a mpox [conhecida anteriormente como varíola dos macacos]. É falso.

Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação?:

Bill Gates inserindo HIV na vacina contra a varíola dos macacos Bill Gates está planejando causar uma pandemia de varíola dos macacos ao liberar uma versão criada em laboratório da arma biológica e, em seguida, lançar uma vacina para o vírus que é ainda mais mortal que a doença.

– Legenda de post que circula no WhatsApp

Falso

Não há qualquer indício de que o empresário Bill Gates está financiando projetos que estão inserindo o HIV em vacinas contra a mpox. O imunizante que está sendo usado mundialmente contra o surto atual do vírus, a MVA-BN, da empresa Bavarian Nordic, é produzida a partir de um vírus atenuado do gênero Orthopoxvirus — o que inclui os vírus da varíola, varíola bovina e o da vaccinia. Em sua bula, não há qualquer menção a antígenos do HIV entre os supostos ingredientes da vacina, como diz o post falso. 

A Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi), organização que recebe o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, publicou um comunicado em 15 de agosto, afirmando que vem investindo na aquisição de vacinas, principalmente, para o continente africano. “A Gavi acelerou o envolvimento com os fabricantes, incluindo os da Bavarian Nordic, para uma potencial aquisição direta de vacinas mpox em apoio à resposta a surtos”, diz. A Gavi é uma parceria público-privada que reúne governos, instituições e doadores, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Banco Mundial, dentre outros.

Vale lembrar que o HIV é o vírus que ataca o sistema imunológico e deixa o organismo sem defesa contra outras infecções, provocando a imunodeficiência humana. A aids, por outro lado, é a doença causada pelo HIV. O vírus é transmitido por diversas vias — sexual ou vertical (de mãe para o filho durante a gestação, parto ou amamentação).

Vacinas contra a mpox

De acordo com a OMS [página 3], há três vacinas contra o vírus do gênero Orthopoxvirus [que inclui os vírus da varíola, varíola bovina e o da vaccinia]: ACAM2000, LC16 e MVA-BN. O imunizante da empresa Bavarian Nordic — MVA-BN ou Modified Vaccinia Ankara-Bavarian Nordic (comercializada sob as marcas Jynneos, Imvanex e Imvamune) — é a que tem sido mais usada mundialmente, inclusive no Brasil, neste surto de mpox. Isso porque mostrou mais eficácia e menos efeitos colaterais. A ACAM2000, fabricada pela americana Emergent BioSolutions, possui diversas contraindicações e mais efeitos colaterais por ser composta pelo vírus ativo, “se tornando assim menos segura”, lembra o Ministério da Saúde. Já a LC16, desenvolvida pela japonesa KM Biologics, ainda não garantiu aprovação regulatória global.

A vacina MVA-BN é composta pelo vírus atenuado. Imunizantes desse tipo usam uma versão enfraquecida do vírus, sem capacidade de produzir a doença. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) explica que, nosso corpo, ao passar por uma prolongada exposição ao vírus durante a lenta replicação viral induz uma resposta imune. “Esta resposta leva à produção de células de memória (linfócito B e T), as quais garantem o estabelecimento de imunidade contra o vírus em questão”, diz. 

Ela é recomendada para adultos, incluindo gestantes, lactantes e pessoas com HIV. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou em agosto de 2022 o Ministério da Saúde a importar e usar o imunizante no país. Nos Estados Unidos, a vacina foi aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration, agência de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos similar à Anvisa no Brasil) e é recomendada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). 

É importante mencionar que a OMS ainda não recomenda vacinação em massa contra a mpox. “Tendo em vista a limitada quantidade de vacinas disponíveis atualmente no mundo, a prioridade neste momento é utilizá-las nas situações em que haja o maior impacto em saúde pública, bem como focar na vigilância, comunicação de risco, engajamento comunitário, rastreamento de contatos e outras medidas de saúde pública destinadas a prevenir a propagação do vírus causador dessa doença”, diz.

Vacina em desenvolvimento

Além das vacinas já disponíveis, outros produtos estão em desenvolvimento. Um deles é de um imunizante baseado em RNA mensageiro (mRNA), o BNT166

O Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também está desenvolvendo uma vacina brasileira contra a mpox. Ela será composta por um vírus semelhante ao da mpox, atenuado através de passagens em um hospedeiro diferente. No momento, o imunizante está em fase de estudo.

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