Publicado originalmente em Agência Lupa por Evelyn Fagundes. Para acessar, clique aqui.
Circula nas redes sociais um vídeo afirmando que a abertura de comportas das barragens do Rio das Antas e do Rio Carreiro teria resultado nas enchentes do Rio Grande do Sul. É falso.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:
Eis aí a prova máxima. Estamos sob o Rio das Antas, no Belvedere, onde está a usina 14 de julho […] O lago, onde é o lado da barragem, completamente normal. Da barragem pra baixo […] destruição total e óbvio, abaixo da barragem […] [Essa foi] uma das cinco barragens que foram abertas […] Cinco usinas com as comportas abertas só podia dar no que deu. Isso aqui é o Brumadinho gaúcho
– Transcrição de trecho do vídeo circula nas redes sociais
Falso
O vídeo não prova que a suposta abertura de comportas das barragens teria causado as enchentes do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma gravação antiga, que não tem relação com as recentes enchentes no estado gaúcho. A Lupa identificou o mesmo vídeo em uma publicação feita no TikTok em setembro de 2023.
Captura mostra que vídeo foi publicado no dia 12 de setembro de 2023 no Tik Tok
Além disso, as barragens do Complexo Energético Rio das Antas não são capazes de controlar enchentes, uma vez que elas foram construídas para gerar energia elétrica e suas comportas não armazenam água.
Em contato com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a assessoria de imprensa reforçou que os sistemas citados na gravação não possuem capacidade de agravar cheias.
“As barragens de Monte Claro e 14 de Julho possuem comportas, mas as barragens das usinas são do tipo soleira livre, ou seja, não possuem capacidade de armazenamento e regularização de cheias, são usinas do tipo ‘fio d’água’. Em outras palavras, as vazões afluentes são totalmente defluidas. Não há como agravar as cheias”, disse, em nota encaminhada à Lupa.
“Do mesmo modo, as PCHs do Rio Carreiro são usinas de pequeno porte. Nenhuma delas também possui capacidade de regularização das vazões. Todas são fio d’água”, disse a Aneel sobre as “Pequenas Centrais Hidrelétricas” (PCHs), que são “usinas hidrelétricas de tamanho e potência relativamente reduzidos”, segundo a categorização utilizada pela Associação Brasileira de PCHs e CGHs.
Em setembro de 2023, quando também ocorreram enchentes no Rio Grande do Sul, a Lupa verificou uma outra publicação desinformativa com a mesma narrativa. Posts afirmavam que a abertura de comportas do Complexo Energético do Rio das Antas teria acelerado a inundação — o que era falso. Na época, a Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul explicou que não existiam evidências de que as barragens influenciaram no aumento das cheias.
Este conteúdo também foi verificado por Estadão Verifica e Reuters.