Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Fabrício Campos. Para acessar, clique aqui.
Uma cientista que revolucinou o tratmento da Aids com sua tese de doutorado em 1991 traz verdades surpreendentes em um documentário, e defende que o novo coronavírus foi manipulado em laboratório e que o uso de máscaras faciais ativam o vírus presente nas pessoas infectadas.
Este é o conteúdo presente em um vídeo recebido para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo. Semelhante a todas as teorias conspiratórias surgidas durante a pandemia, todas essas informações do parágrafo anterior são falsas, e espalham desinformação a partir de um conteúdo apelativo e chocante.
O vídeo trata-se do documentário “Plandemic”, uma entrevista de cerca de 25 minutos com a ex-pesquisadora americana Judy Mikovits. O vídeo, lançado em maio de 2020, promove a ideia de que as vacinas são “fazedoras de dinheiro de grandes empresas farmacêuticas” que causam danos à saúde. O título em português é “Plandemia – O plano por trás da pandemia”.
Além das teorias conspiratórias sobre as vacinas terem causado “milhões de mortes” no mundo, Miklovitz também defende que o vírus SARS-CoV-2 da Covid-19 teria sido manipulado em um laboratório americano a partir de um vírus presente em morcegos.
O vírus presente nos morcegos é semelhante ao novo coronavírus, mas já apresenta uma diferença evolutiva de pelo menos 20 anos. E não há evidências de que o vírus tenha origem em laboratórios americanos.
Judy Miklovits é ex-pesquisadora e ex-diretora de pesquisa do Whittemore Peterson Institute, um centro de pesquisas privado americano. Em 2009, ela publicou um artigo na revista Science que sugeria que um agente viral presente em camundongos estaria associado à causa da Síndrome da Fadiga Crônica, até então uma doença sem causas conhecidas.
O artigo sugere também que a Síndrome poderia ser tratada com agentes antivirais semelhantes aos usados no tratamento da AIDS.
No entanto, a pesquisadora caiu em descrédido anos depois. Em 2011, a Science retirou o artigo de circulação depois de diversas outras instituições de pesquisa não conseguirem replicar e comprovar o experimento.
Em 2012, um estudo de 2,3 milhões de dólares da Universidade de Columbia encerrou a questão, e constatou que não haveria evidências de que o agente viral dos camundongos pudesse estar presente também em humanos.
A pandemia do novo coronavírus propiciou o surgimento e compartilhamento de diversos tipos de desinformação, em parte devido ao receio da população sobre a nova doença e a necessidade de se obter alguma resposta sobre a Covid-19.
O sucesso do compartilhamento do vídeo Plandemic também faz com que diversas instituições científicas e jornalísticas se apressassem para desmentir seu conteúdo. Basta uma pesquisa rápida com o nome do vídeo no google para acessar diversas outras verificações.
Poucos dias depois do lançamento do vídeo, a revista Science publicou um artigo detalhado que aponta e desmente várias das ideias falsas contidas em Plandemic. Alguns dos boatos checados por esta matéria foram baseados no texto da revista científica.