Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Análise de 3.318 vídeos de 50 canais brasileiros aponta que 41% das publicações que mencionaram a Covid-19 desinformaram a audiência
- Táticas como a substituição de termos como “Covid-19”, “pandemia” e “coronavírus” por pronomes ou anagramas foram utilizadas por grande parte dos canais
- Maioria dos vídeos com desinformações continuou lucrando mesmo um ano e meio após último anúncio do YouTube de que a empresa combateria fake news sobre a pandemia
Uma análise de mais de 3 mil vídeos de canais brasileiros hospedados no YouTube aponta que os produtores deste conteúdo lucraram com a disseminação de fake news sobre a pandemia, adotando uma série de táticas para contornar as políticas de moderação da plataforma. A substituição de palavras como “Covid-19”, “pandemia” e “coronavírus” por outros pronomes, texto escrito, gestos e anagramas foi uma das principais técnicas para propagar teorias conspiratórias e negar estratégias de prevenção amplamente defendidas por organizações oficiais de saúde. Ações como esta permitiram que os canais continuassem contribuindo para a desinformação, enquanto lucravam com anúncios e demais formas de monetização. A conclusão é de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Institute for Globally Distributed Open Research and Education e da Universidade da Califórnia. O trabalho será publicado na quarta (3) na revista Frontiers in Communication.
Neste trabalho, foram filtrados 3.318 vídeos de 50 canais brasileiros reconhecidos como disseminadores de informações falsas, publicados nos seis meses que seguiram o registro do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020. Aproximadamente 41% dos vídeos que mencionaram a doença envolveram algum tipo de desinformação, cujas graves consequências podem ser ainda mais severas durante crises de saúde pública.
Os pesquisadores se surpreenderam com o fato de que a maioria dos vídeos com desinformações sobre a pandemia continuou gerando lucro mesmo um ano e meio após o último anúncio do YouTube de que combateria conteúdos falsos relacionados ao tema. Isto levou os cientistas a concluir que as técnicas utilizadas pela plataforma não são efetivas, como relata a autora principal do estudo, a jornalista Dayane Machado. “A plataforma incentiva e premia canais distribuidores de teorias da conspiração e de saúde alternativa por meio de seu programa de parcerias. Nos chamou atenção a relativa tranquilidade com que esses canais se mantêm online e monetizados, mesmo desrespeitando as políticas da plataforma”, aponta.
Uma das táticas identificadas para a distribuição de informações falsas é o futuro alvo de análise dos pesquisadores: a adoção de serviços alternativos, como o Telegram. “Nosso próximo passo será investigar a contribuição do Telegram para a circulação de outros tipos de desinformação sobre saúde, além de compreender se os atores envolvidos em mercados irregulares de saúde são os mesmos atores já identificados, explorando financeiramente as desinformações sobre vacinas e sobre Covid-19 no contexto brasileiro”, relata Dayane, que é mestre em Divulgação Científica e Cultural na Universidade Estadual de Campinas e doutoranda em Política Científica e Tecnológica na Unicamp.