Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Pesquisadores monitoraram os fluxos de chuva e a influência dos rios voadores em quatro locais da Mata Atlântica
- Espécie de rã endêmica apresentou mudanças morfológicas para se adaptar à degradação climática
- O ritmo de adaptação biológica das espécies para lidar com menos umidade não consegue alcançar a velocidade das mudanças causadas pelo desmatamento
Mesmo a quilômetros de distância, os fatores climáticos da Amazônia influenciam a biodiversidade e a morfologia das espécies da Mata Atlântica. Um estudo pioneiro demonstrou que o desmatamento na maior floresta tropical do mundo ocasiona uma perda massiva de biodiversidade em outras regiões do Brasil, e o tempo de adaptação das espécies é menor que o ritmo das mudanças climáticas. Com autoria de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e colaboradores, o artigo contendo os resultados foi publicado na revista “Conservation Biology” neste mês.
A pesquisa foi feita por meio do rastreamento do fluxo de chuvas de quatro locais no sudeste do Brasil: Campinas (SP), Caldas, Poços de Caldas e Areado (MG). Os cientistas identificaram, por meio de imagens de satélites da NASA, que a Amazônia é origem de parte das chuvas dessas regiões. Isso acontece graças ao fenômeno dos rios voadores, pelo qual há transporte de umidade da Amazônia até as regiões Sul e Sudeste do Brasil.
“Estamos vendo o processo de uma espécie evoluindo para se adaptar às mudanças climáticas que estamos causando”, afirma Lucas Ferrante, biólogo que desenvolveu a pesquisa pelo INPA. O autor constatou que as populações de uma espécie de rã, Hylodes sazimai, apresentaram mudanças na própria morfologia – como os mecanismos naturais de preservação da água corporal – de acordo com as diferenças do clima das quatro localidades, o que significa que as variações climáticas decorrentes do desmatamento da Amazônia forçam essa adaptação.
Esse resultado é importante para demonstrar que a degradação do ciclo hidrológico da Amazônia tem consequências na biodiversidade de outros locais que dependem da umidade trazida pela floresta. O monitoramento das rãs mostrou haver declínio populacional preocupante, e o especialista alerta que, se as condições ambientais continuarem, a extinção poderá acontecer a curto prazo. “A velocidade em que estamos degradando a Amazônia e acelerando as mudanças climáticas é superior ao tempo necessário para que a espécie se adapte”, explica.
Ferrante informa que é urgente adotar políticas públicas para redução do desmatamento na Amazônia. Essa medida protege a biodiversidade das rãs da Mata Atlântica e até mesmo setores estratégicos da economia, como a agricultura. “O atual nível de degradação da Amazônia foi alcançado em parte pelos altos níveis de desmatamento no atual governo. Zerar o desmatamento deve ser uma prioridade já no primeiro ano do governo Lula. Precisamos restaurar a eficiência climática da Amazônia”, conclui o pesquisador.