Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Mariana Mandelli. Para acessar, clique aqui.
*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta
Os jovens brasileiros têm concluído o ensino médio sem desenvolver algumas habilidades consideradas básicas para uma vida autônoma em um mundo hiperconectado, tais quais: reconhecer a finalidade de propagandas; identificar a informação principal em reportagens; localizar informações explícitas em infográficos, reportagens, crônicas e artigos, e diferenciar fato de opinião em contos, artigos e reportagens, entre outras.
Este é um dos diagnósticos do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em linhas gerais, o cálculo do índice leva em conta os resultados de avaliações de larga escala em língua portuguesa e matemática, aplicadas no ensino fundamental e no ensino médio, e as taxas de fluxo escolar.
Por meio das médias dos exames de proficiência, é possível aferir a probabilidade de os estudantes, de acordo com a faixa etária e o ano em que estão matriculados, já terem desenvolvido determinadas habilidades e competências relacionadas à respectiva etapa de ensino.
Como qualquer instrumento de avaliação, o Ideb tem potenciais e limitações, e deve ser compreendido dentro desses parâmetros. Ou seja, é preciso lembrar que por trás das médias e estatísticas existem crianças, jovens, professores e demais educadores e funcionários de escolas, inseridos em um sistema de ensino bastante diverso e heterogêneo, com especificidades regionais que refletem também as profundas desigualdades socioeconômicas do País. No entanto, é uma importante e sólida ferramenta de monitoramento para nortear políticas públicas, construindo um histórico relevante e detalhado da educação brasileira.
O quadro revelado pelo Ideb 2023 não é exatamente uma novidade: os dados de proficiência do ensino médio enfrentam, há anos (e mesmo antes da pandemia de coronavírus), uma tendência de estagnação, com pouquíssimos avanços justamente na fase final da educação básica, que revela em que condições os jovens devem adentrar as universidades e o mercado de trabalho.
Em um mundo hiperconectado, avaliar a confiabilidade das mensagens e checar a veracidade das informações é uma questão de sobrevivência individual e coletiva. Não podemos mais admitir a possibilidade de termos egressos do sistema de ensino que não saibam como consumir e interpretar o que leem, ainda mais se levarmos em conta que eles formam a geração que enfrentará desafios como a já presente emergência climática e os avanços de tecnologias como a inteligência artificial generativa..
Nesse sentido, as políticas públicas de alfabetização não podem desprezar o universo infodêmico em que crianças e jovens vivem e precisam ser acompanhadas de iniciativas de educação midiática. Estamos em um mundo multitextual, em que mensagens das mais diversas procedências chegam até nós em um fluxo ininterrupto. Lidamos diariamente com novos formatos de conteúdos que desafiam nosso senso crítico e nossa percepção da realidade. Por isso, ações como buscar, interpretar, questionar, checar, consumir e refletir sobre informação (e desinformação) ganham novas e complexas camadas, que devem ser ensinadas nas escolas para que não somente melhoremos o Ideb, mas para que formemos cidadãos aptos a viverem com autonomia e criticidade no mundo conectado.