Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Edison Mineiro. Para acessar, clique aqui.
Circula nas redes sociais o vídeo de um suposto virologista dos Estados Unidos, Robert Malone. Em um discurso público, o profissional cercado de uma equipe médica afirma que as vacinas que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro não funcionam, além de constituir risco à população. Para o médico, a melhor solução no combate à Covid-19 é a infecção natural. Após suas falas, Malone recebe o clamor do público.
Os argumentos apontados no vídeo são falsos. De acordo com o serviço Fato ou Fake do G1, a ocasião do depoimento público trata-se de um ato contra as vacinas em Washington, nos Estados Unidos, assim como registrou o jornal The Washington Post. Mas ele não é o criador das vacinas de mRNA.
Malone contribuiu com evidências de que o mRNA poderia produzir proteínas nas células, mas não pode ser considerado o inventor da tecnologia do mRNA, porque essa descoberta se deve ao trabalho de muitos outros pesquisadores.
Localizado pelo G1, um artigo da revista Nature explica com detalhes o papel que ele teve na história do mRNA. Malone descobriu que era possível transferir mRNA protegido por uma pequena camada de gordura para orientá-las a produzir proteínas. Depois, ele aplicou a sua teoria em animais. Contudo o fato ocorreu em 1989, e muitas outras pesquisas antes e depois foram realizadas para chegar à situação atual.
A alegação de que ele foi o inventor das vacinas já foi alvo de reportagens e checagens pelo mundo e, em todas elas, foi considerada falsa. Ele se tornou uma estrela dos veículos que disseminam desinformação a respeito das vacinas.
Sobre o argumento que contesta a eficácia das vacinas, o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, rebate a alegação falsa.
“Nós temos quase 12 bilhões de vacinas distribuídas pelo mundo das diferentes fabricantes, e nenhuma mostrou efeito colaterais importantes a ponto de ser recolhida. Ou seja, o benefício e o número de vidas salvas e de casos evitados superam de longe esses raros efeitos colaterais. Então é mentira quando ele fala que a vacina não é segura e é mentira quando ele fala que não está protegendo nada os idosos’, diz ao G1.
Ainda desmentindo a falta de segurança da tecnologia mRNA, o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Associação Médica Brasileira (AMB) explica à Agência Lupa: “As vacinas da Pfizer e da Moderna têm registrado alguns eventos raros — raríssimos, eu diria —, potencialmente graves, mas nada relacionado à toxicidade da proteína Spike do Sars-CoV-2”. Ele reforça que nada nesse sentido foi observado nos estudos de desenvolvimento do imunizante, nem ao longo de um ano de sua aplicação em larga escala.
A vacina da Pfizer é composta de pedaços microscópicos de gordura que contêm um RNA mensageiro, ou mRNA. Esse pequeno fragmento de material genético possui as instruções para que células do corpo produzam a chamada proteína Spike, que estimula o sistema imunológico a produzir defesas contra o vírus. “É como se o indivíduo tivesse uma falsa Covid, porque você produz uma parte do vírus em alta quantidade e aí as células do sistema imune reconhecem isso como um ataque, fabricando anticorpos”, explica Barbosa. A proteína Spike se desintegra em pouco tempo, e não interage, em momento algum, com o núcleo das células — e, portanto, não tem capacidade de alterar o material genético de células humanas.
Conforme pontua a Agência Lupa, a bula da vacina da Pfizer, expõe acerca de casos “muito raros” de miocardite e pericardite, que são inflamações relacionadas ao coração, foram relatados após uso do imunizante, especialmente entre homens mais jovens, após a segunda dose e em até 14 dias após a aplicação. Entretanto, o documento ressalta que geralmente são casos leves e que os indivíduos tendem a se recuperar em um curto período de tempo após tratamento padrão e repouso — dessa forma, são efeitos reversíveis, ao contrário do afirmado por Malone no vídeo. Os casos são consideravelmente mais raros e tendem a ser consideravelmente menos severos do que os causados pela própria Covid-19.