Publicado originalmente na iniciativa Verificado da Organização das Nações Unidas (ONU). Para acessar, clique aqui.
Em meio à contínua incerteza, medo e ansiedade em todo o mundo com a pandemia da COVID-19, oficiais sêniores da ONU reforçam a legitimidade das preocupações, ouvem com cuidado a cidadãos de todo o mundo e os ajudam a distinguir entre a desinformação e a informação acurada, baseada a ciência.
Às margens do debate geral da Assembleia Geral da ONU, o serviço de notícias da ONU conversou com a subsecretária-geral do Departamento de Comunicação Global (DCG) da ONU, Melissa Fleming, e com a diretora de Pandemia e Doenças Epidêmicas da Organização Mundial de Saúde (OMS), Sylvie Briand.
Numa entrevista conjunta, eles discutiram quão importante é para as Nações Unidas se engajar com o público e realçaram os esforços colaborativos internacionais para desenvolver vacinas efetivas e acessíveis para todos.
Ineditismo – “A dificuldade do período atual é, primeiro, há muito medo da doença e muita ansiedade por parte da população, assim como muitas incertezas”, afirmou Sylvie Briand. “É uma doença nova. Muitas coisas são inéditas nesta pandemia”.
“Desinformação não é novidade”, complementou Melissa Fleming. “Temos tido desinformação ao longo da história. A diferença aqui é que nós temos uma pandemia global que está acontecendo na idade das redes sociais”, disse a subsecretária.
Emergência em comunicação – Em uma mensagem de vídeo exibida no dia 23 de setembro num evento de alto nível sobre como mitigar os danos da desinformação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a COVID-19 não é apenas uma emergência de saúde pública mas é também uma emergência em comunicação e que assim que o vírus se espalhou ao redor do mundo, mensagens imprecisas e até perigosas proliferaram violentamente nas redes sociais, deixando as pessoas confusas, enganadas e mal informadas.
De acordo com Sylvie Briand, quando as pessoas ficam ansiosas e incertas sobre uma quantidade de coisas, elas tendem a comparar com coisas que já sabem ou já experimentaram no passado. Referente à vacina da COVID-19, ela notou que as pessoas já começaram a ter preconceitos ou medo sobre vacinas.
“O que realmente é importante neste período agora – porque ainda não temos a vacina -, é começar a construir um espaço para um diálogo bastante aberto, um diálogo recíproco com a população para que possamos ouvir suas preocupações e possamos responder a estas preocupações o máximo que pudermos”, ela acrescentou.
Melissa Fleming disse que os medos e preocupações das pessoas são legítimos: “Queremos ouvi-las e enfrentar estes medos e preocupações com informação que elas possam acessar e compreender”.
Um encontro de alto-nível foi realizado na terça-feira (29), sobre como enfrentar o coronavírus junto com a iniciativa Acelerador de Acesso às Ferramentas COVID-19 (ACT), lançado em abril como uma colaboração global para acelerar o desenvolvimento e a produção de diagnósticos, tratamentos e vacinas em bases equitativas.
Fatos científicos – A chefe do Departamento de Comunicação Global da ONU acredita que a Organização tem os meios e uma oportunidade valiosa para alcançar as pessoas em todos os lugares com “informação boa e sólida orientação em saúde pública baseada na ciência”. Melissa ponderou, porém, que “não há apenas boa informação circulando por aí, ela está misturada com má informação, má ciência produzida por atores maus”.
“O resultado é que o público que está recebendo (a informação) está tendo dificuldade em navegar e distinguir entre o que é bom e o que é mau, o que é desinformação e o que realmente é informação baseada na ciência”, complementou.
“É aí que entramos”, ela destacou, com a habilidade de comunicar fatos científicos “de uma maneira mais acessível, mais interessante, mais otimizada nas redes sociais para que realmente apareça nas páginas iniciais”.
Ao reforçar a importância da informação precisa, é importante deixar que as pessoas saibam “como localizá-la e como falar com amigos e família sobre o tipo de desinformação e conspirações a que eles estão sendo expostos e talvez estejam acreditando”, disse a chefe de comunicação da ONU.
Campanha Verificado – O Departamento de Comunicação Global (DCG) foi pioneiro na iniciativa de conter a desinformação através da campanha Verificado. Ela oferece conteúdo baseado na ciência, conteúdo este que é simples, acessível e referenciado.
“Estamos trabalhando com as plataformas de mídias sociais, temos recrutado voluntários de informação, que são nossa equipe digital ao redor do mundo, integrantes do público que estão comunicando para nós em suas comunidades, com o conteúdo que nós fornecemos”, explicou Melissa Fleming.
Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Harvard e mais três universidades sugere que pessoas com menos de 25 anos nos Estados Unidos são mais propensas a acreditar em desinformação relacionada a severidade da doença e sobre como ela se originou.
“Acredito que isto é provavelmente um reflexo de quem está mais nas redes sociais. É uma população jovem, que está recebendo uma sobrecarga digital, então a atenção delas provavelmente não é suficiente para olhar para a informação recebida e realmente questioná-la”, disse Melissa Fleming.
Pause antes de publicar – Parte da iniciativa Verificado é conseguir que as pessoas parem e pensem antes de publicar. “O que a Pause faz é introduzir uma nova norma social, como uma campanha do tipo Não dirija antes de beber, por exemplo”, explicou a subsecretária da ONU.
“Queremos que nossa nova norma social seja pause, tome cuidado antes de compartilhar. E para as pessoas serem treinadas, vamos dar mais informações aos jovens, e a todos, sobre quanta desinformação está circulando e como identificá-la”, reforçou.
“Acreditamos – e temos evidências para acreditar – que se a pessoa espera estes 30 segundos e realmente questiona o que está vendo, ajudará a conter a disseminação, embora não a pare completamente”, ponderou Melissa.
Ela explicou que também é necessário “mais trabalho nas plataformas sociais não só para localizar a desinformação mas realmente parar seus rastro”.
Segundo Sylvie Briand, “porque as pessoas estão sobrecarregadas com informação, é muito difícil para elas distinguir o que é bom do que o que é ruim”. “Mas acreditamos que se você dá boa informação para as pessoas, para que elas possam estar informadas sobre as decisões sobre a saúde delas, então é menos provável que elas ouçam a desinformação”, complementou.
A OMS está trabalhando com jovens para que eles se sintam parte da solução e não caiam no ostracismo por serem considerados disseminadores de coronavírus: “Trabalhamos com eles para mudar esta percepção”, acrescentou Sylvie Briand.
“A coisa mais importante é trabalhar com as comunidades nos níveis locais”, assegurou Melissa Fleming. “Precisamos pensar globalmente, mas agir localmente. Pensar globalmente nas soluções para a COVID-19, para a vacina, ninguém está seguro enquanto todos não estiverem seguros”.