Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.
Em um vídeo que circula pelo WhatsApp, identificado pelo aplicativo parceiro Eu fiscalizo, o ex-apresentador de TV Gilberto Barros afirma que umgrupo de cientistas estrangeiros estaria oferecendo “um milhão” – ele não precisa em qual moeda – para quem entregar a eles “um vírus separado, limpo e inteiro da COVID”.
Barros prossegue, dizendo que entre 1,5 mil testes positivos de COVID-19 distribuídos para sete universidades, nenhuma das instituições teria encontrado o coronavírus SARS-CoV-2, transmissor da doença. “O que foi descoberto foi o influenza 1, na grande maioria, e em pouquíssimos casos, o influenza 2”, alega o apresentador.
Enviamos o vídeo para dois virologistas reconhecidos como referências no Brasil: o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Guimarães da Fonseca, que também é um dos coordenadores do CT Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais; e o coordenador do Laboratório de Vírus Emergentes (Leve) da Unicamp, José Luiz Proença-Módena.
Ambos os pesquisadores apontam como um dos vários equívocos na fala de Barros a forma como ele classifica o vírus influenza, transmissor da gripe. “O influenza que afeta o ser humano é classificado como influenza A, ou como influenza B, sendo que o mais frequente na população humana é o influenza do tipo A”, esclarece Fonseca. “Ele fala influenza 1, influenza 2, isso não existe”, completa Proença-Módena, ao explicar que há, na verdade, subtipos do vírus influenza A, a exemplo do H1N1 e do H3N2.
Sobre a suposta impossibilidade de isolamento do SARS-CoV-2, Fonseca avalia como “absolutamente incorreto”. “Omundo inteiro já isolou o SARS-CoV-2. No Brasil, diversos laboratórios já trabalham com vírus isolado, coletado de pacientes brasileiros”, assegura Fonseca, citando nomes de pesquisadores da Rede Corona-ômica BR MCTI.
Proença-Módena é um dos cientistas que trabalham no isolamento da variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2 no Brasil, no laboratório da Unicamp. Segundo ele, o isolamento do vírus é determinante para a realização de estudos sobre a resposta das vacinas às suas mutações características e testes de medicamentos, por exemplo.
O pesquisador pondera que as pessoas podem, eventualmente, ser infectadas simultaneamente por vírus diferentes. “Quando isolamos a amostra de um vírus de um paciente, se a pessoa tiver uma coinfecção, podemos isolar mais de um vírus daquela amostra”, explica.