“Coronavírus é muito triste”

Publicado originalmente em COVID-19 DivulgAÇÃO Científica. Para acessar, clique aqui.

Pesquisa avalia a percepção de crianças cariocas sobre a pandemia de COVID-19 e o vírus causador da doença.

O fato de que crianças saudáveis não estejam associadas aos grupos de risco para desenvolvimento de formas graves da COVID-19 não significa que elas não sejam afetadas pela pandemia. Desde março de 2020, a vida delas virou de cabeça para baixo: as aulas foram interrompidas, as oportunidades de interação com familiares e amigos foram reduzidas, e muitas viram pessoas próximas adoecerem. A visão das crianças sobre a COVID-19 e o coronavírus SARS-CoV-2 foram tema de pesquisa do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia.

O trabalho, publicado na edição de abril dos Cadernos de Saúde Pública, entrevistou virtualmente 20 crianças entre 8 e 10 anos de idade de diferentes bairros do município do Rio de Janeiro. Embora seja uma pesquisa de caráter qualitativo e que, portanto, não pretende representar a totalidade das crianças cariocas, a amostra incluiu famílias em diferentes situações socioeconômicas, com alunos de bairros ricos e escolas particulares e, também, moradores de regiões pobres e estudantes da rede pública de ensino.

“Os resultados indicam que elas [as crianças] estão conscientes dos riscos e cuidados necessários para a prevenção do coronavírus, mostrando-se apreensivas, com medo de pegar a doença e passar para os seus familiares”, escrevem as autoras Carolina Folino, Marcela Alvaro, Luisa Massarani e Catarina Chagas. As entrevistas foram realizadas nos meses de julho e agosto de 2020.

Das crianças entrevistadas, apenas duas responderam, timidamente, que nada mudou em seu cotidiano. As demais afirmaram que a rotina mudou, em geral atribuindo essas mudanças ao novo coronavírus: “porque tem um vírus no mundo”, disse um participante. As crianças fizeram associação direta entre o coronavírus e a doença por ele causada, por vezes confundindo os dois conceitos, e muitas também mencionaram aspectos da transmissão do SARS-CoV-2, em especial por meio do contato interpressoal.

Parte das crianças também fez referência à origem do vírus (“tudo começou na China”, disse um dos entrevistados). Vários participantes ressaltaram o caráter mortal da doença: É uma doença que mata pessoas!

Entre os sentimentos expostos pelas crianças estiveram medo, preocupação, saudades, tristeza e nervosismo. Elas também falaram sobre como é estar sempre em casa e sobre a vontade de poder circular novamente e reencontrar pessoas queridas, além de mencionar medidas preventivas como uso de máscaras e álcool em gel. Ao demonstrar preocupação com seus avós e receio de transmitir o vírus a eles, as crianças também manifestaram compreender que a COVID-19 pode ser mais grave em certos grupos, como os idosos.

Perguntadas sobre seus conhecimentos sobre os vírus em geral, as crianças geralmente associaram o termo a doenças, mencionando, por exemplo, dengue, zika e febre amarela. Outras mencionaram que vírus são microscópicos, e outras, ainda, lembraram que se trata de algo infeccioso: “alguma coisa que pode transmitir, que a pessoa pode pegar”. Por fim, houve também referência ao desenvolvimento vacinas, manifestando atitude otimista e confiante na ciência e nos médicos e cientistas.

“Os dados deste trabalho ajudam a elucidar como as crianças percebem os vírus e a pandemia de COVID-19, e demonstram que as percepções desta faixa etária sobre os vírus estão atreladas ao que as crianças têm experienciado no período pandêmico. Nossos resultados sugerem que o contexto e a vivência em situações de doença influenciam o conhecimento e as atitudes das crianças perante a saúde, a doença e a ciência de um modo geral”, escrevem as autoras. E concluem: “Diante desse contexto, enfatizamos a importância de as estratégias e decisões que envolvam e impactem diretamente a vida das crianças, como o retorno às aulas presenciais, levem em consideração seus sentimentos, preocupações e percepções do risco”.

Referência

FOLINO, CH; ALVARO, MV; MASSARANI, L; CHAGAS, C. A percepção de crianças cariocas sobre a pandemia de COVID-19, SARS-CoV-2 e os vírus em geral. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 37, n. 4, abr. 2021. Disponível em: http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/artigo/1377/a-percepcao-de-criancas-cariocas-sobre-a-pandemia-de-covid-19-sars-cov-2-e-os-virus-em-geral. Acesso em: 05 mai. 2021.

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