Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Pesquisa brasileira investigou biomarcadores que podem ser usados no futuro para determinar a identidade molecular da depressão tardia
- As análises sugerem que a concentração no sangue de ao menos 96 proteínas é alterada por essa doença
- Essas modificações podem prejudicar processos biológicos ligados a funções importantes para o organismo, como a imunidade e a coagulação sanguínea
Um estudo publicado nesta segunda (12) no periódico europeu “Journal of Proteomics” identificou um grupo de proteínas que pode ser usado para determinar a “impressão digital” da depressão tardia, um subtipo da doença que se desenvolve na população idosa. A proposta é fruto de uma parceria multicêntrica liderada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que envolveu também as Universidades de Connecticut (EUA), de Toronto (Canadá) e a Universidade Federal de Minas Gerais.
Os autores analisaram amostras sanguíneas de 50 pessoas entre 65 e 74 anos, dos quais 19 são diagnosticados com depressão tardia. Os demais foram incorporados ao estudo como grupo controle. Todos os voluntários passaram por avaliação psiquiátrica prévia e tiveram o histórico de saúde mental considerado. Após recolhidas, as amostras foram analisadas e processadas com o auxílio de softwares computacionais e bancos de dados especializados.
Ao comparar a composição sanguínea do grupo diagnosticado com os pacientes controle, foram identificadas diferenças significativas na concentração de 96 proteínas, das quais 75 parecem ser boas candidatas para a determinação de uma identidade molecular para a depressão geriátrica. Além de estarem relacionadas com o quadro depressivo, essas substâncias mostraram uma ligação com a alteração de processos importantes para o organismo, como a comunicação celular, a coagulação sanguínea e a resposta imune. “Nós também vimos que as diferenças na quantidade de seis dessas proteínas podem estar relacionadas com a piora dos sintomas de depressão”, destaca Lícia Silva-Costa, doutoranda no Laboratório de Neuroproteômica da Unicamp e uma das autoras do estudo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, ao menos seis em cada 100 pessoas entre 65 e 74 anos serão diagnosticadas com depressão nessa etapa da vida. Segundo Lícia, os resultados do estudo podem contribuir com a elaboração de novos métodos que facilitem o diagnóstico da doença, favorecendo um aumento na qualidade de vida desses pacientes. “Embora seja necessário validar esses achados em um número maior de pessoas, eles ajudam a compor um corpo de conhecimento para ampliar a compreensão sobre a depressão em idosos”, explica a pesquisadora.
Daniel Martins-de-Souza, coordenador do estudo, reitera a importância do projeto no conhecimento científico da depressão: “o pilar mais importante de nosso trabalho é compreender as bases biológicas da depressão, que é uma doença que atinge uma parcela significativa da população mundial”. Estima-se que até 10% da população pode ser atingida pela depressão em alguma fase da vida. “Esse corpo de conhecimentos que estamos ajudando a construir também pode ser usado na indústria farmacêutica para explorar novos alvos terapêuticos em medicações mais específicas para essa doença”, acrescenta Lícia.