Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Elisa Tobias. Para acessar, clique aqui.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo DataFolha, três em cada dez escolas no Brasil não têm acesso à internet. Quando olhamos para as escolas rurais, a situação é ainda mais preocupante. Um levantamento mais recente do Cetic.Br mostra que quase metade das escolas brasileiras em áreas rurais seguem sem conexão (48%).
Esse cenário fica ainda mais complicado quando observamos as exigências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento estabelece uma série de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos educadores de todo o País. Entre elas, estão o uso de tecnologias de forma crítica e reflexiva, a argumentação com base em dados e o uso da linguagem em diferentes contextos. Para enfrentar ambas as situações, a educação midiática é a ferramenta ideal.
O objetivo da educação midiática é formar crianças e jovens para que sejam capazes de terem experiências positivas nas redes a que têm acesso; de transformarem informação em conhecimento; de terem vozes efetivas em suas comunidades, com criticidade e participação cívica. E, para que essa formação aconteça, não são necessários muitos recursos, já que os primeiros passos para uma navegação saudável devem ocorrer antes do contato com as redes. Ou seja: é possível propor atividades sobre as mídias de maneira offline.
Refletir sobre autoria, contexto e propósito das mensagens que recebemos todos os dias é algo que pode ser feito sem o apoio das tecnologias. O uso de materiais impressos, como jornais, revistas e folhetos são muito úteis para incentivar a leitura crítica da mídia, fazendo com que os alunos compreendam o processo jornalístico e reflitam sobre maneiras de se protegerem da desinformação.
Perguntas como “A que público a mensagem se dirige?”, “Que técnicas ela utiliza para alcançar o seu propósito?”, “Se há afirmações científicas, elas são embasadas?”, “Fontes ou especialistas são citados?”, etc., quando feitas para as notícias e reportagens impressas refletem exatamente o comportamento crítico que a BNCC espera que seja desenvolvido. Assim, quando as crianças e jovens encontrarem essas informações nas redes, saberão avaliá-las de forma crítica.
O Guia da Educação Midiática, publicado pelo Instituto Palavra Aberta, apresenta a seção “Decodificando mensagens”. O material apresenta uma série de perguntas que podem ser feitas ao analisar mensagens de mídia, em qualquer disciplina. O objetivo é desenvolver o hábito da investigação. A publicação está disponível para download gratuito.
Alguns educadores já mostram como é possível realizar atividades e projetos sobre o universo midiático de forma desconectada. Um exemplo positivo vem da cidade de Paulista, em Pernambuco. O professor Glaucio Ramos criou o projeto “Fuja da Fake” contra as notícias falsas sobre as vacinas contra a Covid-19, com estratégias de checagem e criação de roteiros para vídeos. Como resultado, o conteúdo foi exposto em murais acessíveis para a comunidade e será transformado em uma formação para todos os profissionais da rede pública da cidade.
Outra sugestão é recriar no ambiente offline situações problema do ambiente online, como o cyberbullying. Rodas de conversa onde os alunos e alunas se sintam confortáveis para compartilhar suas experiências na internet, a criação de campanhas de conscientização e a promoção de debates onde casos reais sejam discutidos são ações efetivas para estimular o envolvimento dos estudantes com o tema e atender as exigências da BNCC.
Ou seja:é possível desenvolver diversas atividades de educação midiática mesmo que sua escola não conte com muitos recursos tecnológicos. O mais importante é que as crianças e os adolescentes entendam seu papel na sociedade conectada, desenvolvam senso crítico para identificar conteúdos e atuem com empatia para tirar o melhor proveito do que a tecnologia possa oferecer.
*Elisa Tobias é educomunicadora forma pela Universidade de São Paulo (USP) e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta