Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta. Para acessar, clique aqui.
*Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta
*Crédito da imagem: Alberto César Araújo/Amazônia Real
O Brasil entra na contagem regressiva para sediar a COP-30, que acontece daqui a praticamente um ano, no Pará, cheio de motivos para incluir a desinformação climática na pauta das discussões.
Infelizmente, em diversos cantos do planeta, seguimos contabilizando tragédias naturais — que já seriam suficientemente devastadoras —, acompanhadas de fake news e teorias da conspiração que tiram o foco do problema principal e atrapalham seu enfrentamento.
A passagem do furacão Milton pela Flórida (EUA) serviu de base para diversas narrativas falsas, muitas vezes construídas com o objetivo de tentar interferir na disputa pela presidência do país. Não faltou criatividade: posts em redes sociais chegaram a alegar que o governo do democrata Joe Biden estaria manipulando secretamente o clima, de modo a dificultar o voto de possíveis eleitores do republicano Donald Trump. Outras informações falsas ou fora de contexto, um pouco menos mirabolantes, incluíram o discurso de que o dinheiro que deveria ser direcionado para preparar melhor a região fora usado para acolher imigrantes.
O roteiro não é muito diverso do que vimos logo após as enchentes no Rio Grande do Sul. No Brasil, o cenário de desinformação de cunho político mesclado com golpes financeiros levou a Polícia Civil a abrir uma série de investigações.
Além das consequências mais imediatas, como o desestímulo a novas doações, há um componente mais perene na dinâmica perversa da desinformação: a corrosão da confiança na ciência e/ou nas instituições que estão (ou deveriam estar) na linha de frente do enfrentamento à emergência climática.
A mesma internet que abre espaço para que mais pessoas produzam conteúdos para conscientizar a sociedade e articulem ações em prol do meio ambiente também é canal para a propagação de informações inventadas ou distorcidas. Isso sem falar nas ferramentas de inteligência artificial, capazes de gerar imagens e vídeos fraudulentos e poluir ainda mais o ecossistema informacional.
A desinformação agrava a emergência climática em várias frentes, ao negar o aquecimento do planeta, fragilizar o alerta de cientistas, confundir a população, desmobilizar a sociedade, desmotivar a pressão pública por ações mais céleres e enfraquecer as iniciativas de governos para brecar o aumento das temperaturas.
Lutar por um planeta melhor demanda lutar também pela integridade da informação. Esse movimento precisa acontecer o quanto antes, envolvendo não só a população adulta, mas principalmente crianças e adolescentes que sofrem com os resultados das escolhas ruins feitas pelas gerações que as antecederam.
(Para apoiar esse trabalho nas escolas, o EducaMídia disponibiliza gratuitamente o ebook “5 Contribuições da Educação Midiática ao Enfrentamento da Crise Climática”.)