Centro de Combate ao Ódio Digital alerta para uma epidemia de ódio oculto no Instagram

Por Ana Regina Rêgo.

Artigo Também disponível em Portal Acesse Piauí e Jornal O Dia.

Resultados de uma pesquisa denominada Ódio Oculto (Hidden Hate) e realizada pelo Center for Countering Digital Hate-CCDH com sede nos Estados Unidos e Reino Unido, divulgados ontem, 06 de abril, revelam que através das DMs (Direct Message) corre um rio de ódio, misoginia, racismo, assédio e violência, sobretudo, contra as mulheres.

De acordo com o CCDH, uma em cada 15 mensagens diretas no Instagram contém linguagem odiosa, flashes cibernéticos, abuso sexual baseado em imagens e ameaças de violência.

 A pesquisa de cunho qualitativo foi realizada a partir da observação direta e em parceria com cinco mulheres com grande número de seguidores na plataforma em análise, a saber: Amber Heard, atriz e defensora dos direitos humanos da ONU; Rachel Riley, radialista e embaixadora da CCDH; Jamie Klingler, co-fundadora da Reclaim These Streets; Bryony Gordon, jornalista premiada e ativista de saúde mental e Sharan Dhaliwal, fundadora da revista Burnt Roti no sul da Ásia.

A investigação revelou uma “epidemia de abuso misógino” que acontece através de mensagens diretas no Instagram (DMs), sendo que 90% das mensagens são completamente ignoradas pela Meta (corporação que congrega grandes plataformas como Facebook e Instagram), apesar de serem constantemente denunciadas aos moderadores.

Através do acesso às mensagens diretas (DMs) no perfil do Instagram das participantes da investigação, os pesquisadores registraram abusos enviados por 253 contas e os denunciaram usando o aplicativo ou site da plataforma. Uma auditoria de contas abusivas revelou posteriormente, que 227 destas contas permaneceram ativas pelo menos um mês depois que essas denúncias foram arquivadas, representando a falha do Instagram em agir em 89,5% das denúncias enviadas a seus moderadores.

Para o CCDH, essa descoberta é particularmente preocupante, uma vez que a pesquisa sugere que metade dos usuários abusivos enviam mais mensagens abusivas quando as plataformas não conseguem removê-las.

No caso em análise, o Instagram permitiu que 9 em cada 10 agressores que enviaram ameaças violentas às participantes da pesquisa, permanecessem online, mesmo depois de serem denunciados ao Instagram usando as próprias ferramentas da plataforma.

Os pesquisadores identificaram vários problemas sistemáticos na função DM do Instagram que prejudicam seriamente a segurança dos usuários, a saber: 1. Os usuários não podem denunciar nenhuma nota de voz abusiva que as contas enviaram via DM; 2. Para denunciar mensagens enviadas em “modo de desaparecimento”, os usuários são obrigados a visualizá-las; 3. O recurso “palavras ocultas” do Instagram é ineficaz para ocultar abusos dos usuários; 4. Os usuários podem enfrentar dificuldades para baixar evidências de mensagens abusivas.

Centro de Combate ao Ódio Digital-CCDH realizou análise de dados separadamente a partir de um total de  8.717 mensagens diretas recuperadas por download de dados, sendo que duas das participantes, Amber Heard e Bryony Gornon não conseguiram recuperar todos os dados.

Os resultados da análise revelam que uma em cada 15 mensagens diretas ( 6,67%) quebrou as regras da própria plataforma para abuso e assédio, sendo que os pesquisadores registraram 125 exemplos separados de abuso sexual baseado em imagens/nudes ameaçadores.

Segundo o CCDH, o Instagram falou em agir em todos os exemplos de abuso sexual baseados em imagens, mesmo após 48h do abuso ter sido denunciado à plataforma.

Vale destacar ainda que a pesquisa terminou por revelar que uma entre cada sete mensagens de voz enviadas para as mulheres participantes da pesquisa, eram abusivas. O Instagram permite que estranhos enviem mensagens de voz para mulheres que não conhecem. Na verdade, esta é uma recorrente denúncia do público feminino contra as políticas das plataformas. Mensagens que contém assédio, ameaças violentas e abuso sexual (fotos/nudes) são enviadas em grande volume, principalmente, para mulheres que possuem muitos seguidores, pela posição social que ocupam. Tais mensagens são enviadas sem o consentimento das usuárias que terminam recebendo o que é indesejável.

De acordo com o CCDH, as políticas do Instagram prometem agir contra o discurso de ódio, incluindo misoginia, homofobia e racismo, nudez ou atividade sexual, violência gráfica, ameaças de violência. A plataforma reconheceu que “ver DMs abusivos em primeiro lugar tem um preço”, e em fevereiro de 2021, o Instagram anunciou novas medidas destinadas a “remover as contas de pessoas que enviam mensagens abusivas”. A plataforma reconheceu que a caixa de entrada de “pedidos” reservada para DMs de estranhos “é onde as pessoas geralmente recebem mensagens abusivas”. Além de prometer filtrar essas mensagens, a plataforma prometeu agir sobre denúncias de abuso. Todavia, a nova pesquisa do Center for Countering Digital Hate-CCDH revela que o Instagram continua falhando sistematicamente em remover contas que violam suas regras.

Para Imram Ahmed, CEO do Center for Countering Digital Hate-CCDH, “o Instagram escolheu ficar do lado dos abusadores criando negligentemente uma cultura na qual os abusadores não esperam consequências – negando às mulheres a dignidade e sua capacidade de usar espaços digitais sem assédio”. Enfocando que apesar das plataformas digitais se constituírem como importantes espaços para construção de marcas pessoais, comunicação e relacionamentos pessoais e comerciais; para as mulheres, as redes sociais trazem outras consequências, visto que um bom número de usuários do sexo masculino se utiliza das vias ocultas para propagar violência e ódio.

Center for Countering Digital Hate-CCDH é uma ONG internacional sem fins lucrativos que busca romper a arquitetura do ódio e desinformação online. O Centro tem escritórios em Londres e Washington DC.

O Relatório da Pesquisa Hidden Hate pode ser acessado pelo link https://www.counterhate.com/hiddenhate 

Para pressionar a META a modificar sua política e suas ações sobre o ódio digital no Instagram você pode assinar uma carta neste link https://act.counterhate.com/page/102956/petition/1?ea.tracking.id=Internal_link

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