Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.
A nova pesquisa “Climate Change News Audience 2023” do Instituto Reuters mostra que 87% dos brasileiros estão preocupados com a desinformação climática, um crescimento de 5% em relação aos resultados do ano passado. A porcentagem brasileira deste ano está 80% acima da média internacional.
Apesar do número elevado, os brasileiros não são os mais receosos sobre o assunto. Na Índia, país que vem sofrendo nos últimos anos com fortes ondas de calor no verão, 93% dos entrevistados dizem ter preocupação com notícias e informações falsas sobre as mudanças climáticas. Os japoneses são os que menos se afligem, com 69%.
O relatório entrevistou pessoas de oito países – Brasil, França, Alemanha, Índia, Japão, Paquistão, Reino Unido e Estados Unidos – com o objetivo de entender como elas acessam e consomem notícias, quais são as principais fontes de informação e as percepções sobre desinformação climática.
A pesquisa também descobriu que, em média, em todos os países analisados, a percepção da exposição à desinformação climática (que chegou a 27% dos entrevistados) é equivalente à desinformação política (31%) e desinformação sobre políticas governamentais (27%).
Mesmo assim, somente 25% do total de inquiridos afirmaram ter visto notícias falsas sobre as mudanças climáticas. Desse montante, uma percentagem mais elevada na Índia, no Brasil e nos EUA afirma ter encontrado notícias falsas e informações enganosas online, incluindo redes sociais e aplicativos de mensagens. Os jornais e a rádio continuam a ser menos frequentemente citados em todos os países como fontes de desinformação sobre o clima.
Questionados sobre as fontes de desinformação, 13% dos entrevistados totais afirmaram vir de políticos e partidos, 12% de governos, 12% de ativistas e 11% de celebridades. Cientistas, institutos internacionais, empresas de energia, conhecidos/amigos, líderes religiosos e organizações de caridade também receberam 10% ou menos das respostas. Os resultados brasileiros seguiram a média internacional.
Consumo de notícias climáticas também aumenta
Se, por um lado, houve um aumento do medo sobre desinformação climática, por outro, as pessoas estão consumindo mais informações sobre meio ambiente e mudanças climáticas. De acordo com os resultados do Instituto Reuters, mais da metade dos entrevistados (55%) afirmaram ter tido acesso a notícias sobre o assunto, um crescimento de 3% em relação ao ano passado. No Brasil, esse número sobe para 57%, com crescimento de 5%.
O aumento, segundo o estudo, “pode ser atribuído a uma combinação de fatores, incluindo uma maior cobertura midiática relacionada com o clima, um crescente interesse público no assunto, ou um aumento na frequência de eventos relacionados com o clima que estão sendo noticiados pelos meios de comunicação”. No Brasil, o aumento do debate público sobre mudanças climáticas também foi identificado por outra pesquisa lançada recentemente, produzida pelo projeto Mídia e Democracia da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI-FGV). De acordo com o estudo, em 2023 o debate público sobre o clima no país ganhou grande repercussão, impulsionado, principalmente, por eventos extremos. Apesar disso, o tema foi atravessado por dinâmicas da desordem informacional, com discursos negacionistas e conspiracionistas.