Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thalita Albano. Para acessar, clique aqui.
Há cerca de um ano e meio, o mundo vive a pandemia do novo coronavírus. Milhares de pessoas em diversos países foram contaminadas, famílias perderam entes queridos e os profissionais da saúde têm enfrentado diariamente, uma luta contra um inimigo invisível que parou o planeta. A vacina, recentemente descoberta, tem sido a esperança de todos.
E se tratando de vacinas, o Nujoc Checagem, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo – da Fiocruz (disponível para Android e iOS), recebeu para averiguação, uma publicação do Instagram da Procuradora e Deputada Federal do Distrito Federal, Bia Kicis, afirmando que o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em percentual da população adulta vacinada contra a Covid-19.
O post apresenta a porcentagem das pessoas de 18 anos ou mais vacinadas com ao menos uma dose da vacina. Em um gráfico detalhado, o Brasil aparece com 3,2% da população vacinada em fevereiro de 2021, enquanto os Estados Unidos aparece com 11,8% da população vacinada. Em 1 de maio, o Brasil já aparece com 20,1%, enquanto os Estados Unidos com 55,8% da população vacinada. Em 1 de julho, o Brasil aparece com 48,3%, já os Estados Unidos aparece com 66,7% da população imunizada. Por fim, em 12 de agosto de 2021, cerca de um mês e dez dias após o último percentual, o Brasil aparece com 73,9%, enquanto os Estados Unidos aparece com 71,5% da população vacinada. O gráfico mostra ainda que entre os meses de maio e julho, houve uma aceleração na imunização no Brasil.
O Nujoc Checagem, com a ajuda do jornal El País, tratou de verificar a publicação e o gráfico recebidos sobre a comparação entre a vacinação de adultos no Brasil e nos Estados Unidos e constatou que trata-se de uma publicação verdadeira, contudo é preciso atenção no tocante as informações. O Brasil de fato ultrapassa os EUA em número de adultos vacinados com a primeira dose contra a Covid-19 e o motivo desse aumento no número de vacinas aplicadas deve-se aos jovens, que tem aderido à vacinação já visando o carnaval, conforme afirma o jornal El País. No entanto, os Estados Unidos segue na frente do Brasil em número de pessoas vacinadas com as duas doses do imunizante.
Segundo um levantamento feito pela Casa Branca e anunciado pelo representante Cyrus Shahpar, diretor de dados sobre a Covid-19, da Casa Branca, os EUA já possui metade da população completamente vacinada com as duas doses da vacina contra o novo coronavírus. O levantamento leva em consideração todos os adultos e adolescentes, acima dos 12 anos, que receberam as duas doses das vacinas disponíveis ou a dose única do imunizante da Janssen. Shahpar anunciou o marco em um comunicado e celebrou um aumento na média de vacinados dos últimos 15 dias.
Cerca de 165 milhões de pessoas receberam a proteção completa contra o vírus enquanto os EUA tentam evitar a dispersão da variante delta, que tem causado uma epidemia entre os não vacinados.
No Brasil, o El País destaca que a adesão de jovens a campanha de imunização é um dos fatores apontados por infectologistas para que o Brasil tenha aplicado a primeira dose em 73% da população adulta, de acordo com dados das secretarias estaduais de Saúde, superando os Estados Unidos (cujo percentual é de 71%, segundo os dados oficiais do país), onde o movimento antivacina tem afastado essa faixa etária dos postos de imunização com argumentos que vão desde a proibição dos pais às falácias sobre riscos de infertilidade em mulheres.
Segundo dados, São Paulo é o estado mais avançado no tocante a vacinação. 66,7% da população já foi vacinada com a primeira dose ou dose única e, na capital, 98,5% dos adultos já receberam a primeira dose do imunizante. Os números têm gerado esperança. “O movimento antivacina encontra um obstáculo no Brasil que é o brasileiro amar 1) coisas de graça em geral, 2) qualquer coisa que todo mundo esteja fazendo e 3) qualquer coisa que dê para tirar uma foto top para postar nas redes”, descreveu um usuário do Twitter.
Em declaração feita para o El País, Francisco Ivanildo Oliveira, infectologista do Hospital Emílio Ribas, não consegue discordar. “O brasileiro tem, sim, uma predisposição para se vacinar. Felizmente, apesar de existir um pequeno grupo antivacina no país, ele parece se mobilizar mais por ideologias políticas do que por ceticismo científico”, comenta. O especialista lembra as recentes pesquisas de opinião pública, como a realizada pelo Instituto Datafolha em julho, que apontou que 94% da população quer se imunizar contra a covid-19.
Outro fator que tem levado a população jovem a se vacinar é a carência por festas. Estamos há mais de um ano confinados em casa, tendo que inventar inúmeras atividades para não cair na rotina ou no tédio. É fato que existem sim festas clandestinas, encontros entre grupos de pessoas, entre outras atividades, mas há no meio disso tudo, um desejo pela “liberdade” retirada pelo vírus. Uma vontade de sair de casa sem a preocupação de estar voltando contaminado, levando o vírus para pessoas de idade mais avançada, com comorbidades; um desejo por sair sem peso na consciência de que está fazendo a coisa errada.
Christian Dunker, psicanalista, avalia que “os jovens estão absolutamente carentes de festa, e a campanha de imunização juntou dois blocos, aqueles que vão para a fila quase como quem vai a uma micareta e os que o que fazem por um profundo sentido de dever moral”, disse ele. Dunker lembra também que a geração Z se caracteriza por um certo moralismo, uma adesão aos valores globais que a leva a agir de forma disciplinada quando se trata de fazer o que é certo.
Há quem afirme que a publicidade em torno da vacina foi eficaz, o que fez com que centenas de pessoas, já incomodadas com o confinamento que dura cerca de um ano e meio, tenham aderido à vacinação como forma de “buscar a liberdade”.
Contudo, apesar do imunizante ser a prevenção mais eficaz contra o coronavírus, é importante continuar seguindo, mesmo após a vacinação, todos os cuidados necessários contra a doença. O uso de máscara ajuda a reduzir as chances de contaminação. Francisco Ivanildo Oliveira relembra ainda que, embora os estudos científicos mostrem que a eficácia dos imunizantes tende a ser maior na população jovem, o Brasil ainda tem risco de viver repiques de casos como houve em Israel e no Reino Unido, principalmente devido à variante delta do coronavírus, com maior índice de transmissibilidade. Por isso, todo cuidado ainda é necessário.