Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.
O Brasil é o segundo país com mais casos de desinformação em processos eleitorais no mundo, ficando atrás apenas da Índia. Este foi um dos pontos levantados na pesquisa publicada recentemente pelo International Institute for Democracy Electoral Assistance (IDEA) que analisou o contexto de desinformação em processos eleitorais em 53 países de 2016 a 2022. Principais alvos, fontes e dinâmicas gerais das campanhas que buscam desestabilizar eleições pelo mundo também foram identificados.
O estudo “O Ambiente da desinformação em torno das eleições” (disponível apenas em inglês) mapeou, ao todo, cerca de 935 casos de desinformação nos últimos sete anos direcionados a eventos eleitorais nacionais, afirmando que esse tipo de ação é uma tendência ascendente em todo mundo. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Itália não foram considerados.
Os casos são divididos de forma relativamente igual entre todos os tipos de eleições periódicas, sendo o pleito legislativo mais visado globalmente. Os ataques ocorrem durante todo o ciclo de pleito, com maior intensidade nos períodos da campanha e nos dias de votação.
Além disso, 94% das ações identificadas tiveram como alvo principal os órgãos gestores eleitorais, seguidos das organizações não governamentais e missões de observação eleitoral com 1,9%. Entidades privadas e gerais somaram 4,4%.
Esses ataques, porém, não são apenas direcionados aos órgãos em si, mas também aos indivíduos atrelados a eles. O relatório aponta que 15% dos casos relatados online visam funcionários em cargos de liderança nas organizações responsáveis pela gestão do pleito.
Quando se trata de mulheres, os ataques recebem camadas adicionais de estereótipos misóginos, retratando-as como incapazes de cumprir os deveres do cargo. De acordo com o estudo, esses episódios de desinformação e discurso de ódio geralmente escapam da moderação de conteúdo e da verificação de fatos nas plataformas por virem disfarçados com eufemismos.
Os maiores produtores de desinformação eleitoral são os usuários de plataformas online (69%), seguidos de candidatos e figuras políticas nacionais (17%) e publicações de mídia online (11%). Em casos pontuais também foram identificados influencers, ONGS e os próprios órgãos eleitorais.
“Campanhas de desinformação envolvendo contas vinculadas a funcionários ou páginas governamentais foram documentadas em democracias de médio e baixo desempenho, bem como em regimes híbridos. Em alguns casos, o Meta/Facebook identificou e suspendeu essas contas”, diz o relatório da IDEA.
De acordo com o instituto, a metodologia utilizada para a pesquisa foi o estudo de caso em cada um dos 53 países, entrevistas e questionários online com 229 funcionários eleitorais e análise de redes sociais com foco no Facebook.
Principais narrativas da desinformação eleitoral
As principais narrativas desenvolvidas pelas campanhas foram separadas pelo relatório em três tipos: sobre o processo eleitoral, sobre os órgãos gestores do pleito e sobre indivíduos.
Em relação ao primeiro, casos frequentes de informações falsas sobre modificações nas regras de votação foram documentadas. Proibição de votos de eleitores com mais de 70 anos, invalidação de identidades e mudanças na contabilização do voto foram alguns dos exemplos levantados.
Já os órgãos gestores eleitorais foram frequentemente acusados falsamente de fraude nos resultados, abusando de suas prerrogativas. “Foram documentadas narrativas sobre o favorecimento de determinado concorrente eleitoral, impedindo candidatos de concorrer às eleições, por vezes alegando o descumprimento de determinados requisitos legais”, completou o instituto.
Questionamentos sem fundamentos sobre favorecimento também foram destinados a oficiais eleitorais, visando minar a credibilidade dos processos que essas pessoas dirigem.
>> Veja também: os principais estudos sobre desinformação eleitoral de 2022 estão na página Olho nos dados.
Desinformação eleitoral pode impactar percepção, atitudes e comportamentos dos eleitores
A partir dos casos levantados, os pesquisadores do IDEA concluíram que as campanhas de desinformação eleitoral podem impactar em três frentes: a percepção que o eleitor tem do processo, as atitudes e os comportamentos dele perante às eleições.
Conforme mostra o estudo, ao lançar dúvidas sobre a justiça e eficiência do pleito e dos resultados obtidos, é possível alterar a percepção do público sobre a capacidade profissional e imparcial que as autoridades oficiais eleitorais possuem para conduzir o processo de forma transparente.
Consequentemente, isso pode gerar desconfiança, confusão sobre o exercício eleitoral e ceticismo em relação aos resultados finais obtidos. Violência política, intimidação e assédio a funcionários eleitorais e agitação social também são alguns dos efeitos negativos trazidos pelas campanhas de desinformação com foco na desestabilização de eleições.