Bolsonaro atacou as urnas 183 vezes enquanto presidente

Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.

Jair Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas com informações falsas 183 vezes durante seu mandato como presidente do país, mostra estudo realizado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo. O julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), que tem a desinformação e o questionamento à integridade eleitoral como foco, continua nesta terça-feira, 27 de junho.

A nota técnica, de autoria do pesquisador Ergon Cugler, elenca as principais falas do ex-presidente para questionar a segurança eleitoral entre 2019 e 2022. Afirmações como “a urna eletrônica não é segura” e “a urna eletrônica não é auditável” foram as mais repercutidas pelo político, sendo repetidas, respectivamente, 80 e 57 vezes. 

Além disso, frases como “o código-fonte do software de votação não é aberto” e “só o Brasil utiliza urna eletrônica, ela é desatualizada” aparecem 22 vezes cada uma durante o período analisado. Já o argumento “a urna eletrônica é projetada por empresas privadas” aparece 2 vezes.

A maioria dos ataques proferidos pelo ex-presidente, segundo o estudo, foi realizada em 2021, concentrando-se entre maio e junho (25 ataques) e se intensificando entre julho e agosto (80 ataques). Nos períodos eleitorais de 2020 e de 2022, Bolsonaro investiu contra as urnas no total de 19 vezes.

O estudo registra que, no mesmo período, o TSE alertou 270 vezes para notícias falsas online sobre urnas eletrônicas. Dentre as fake news mais compartilhadas  estão afirmações semelhantes a do político, como “as urnas não são seguras” ou “não são auditáveis”.

Para se chegar aos resultados, o pesquisador utilizou técnicas de raspagem de dados, com o uso de três bancos de dados: tweets do perfil @desbloqueandojp, listas de falas de Jair Bolsonaro checadas pela agência de checagem “Aos Fatos” e lista de notícias falsas relacionadas às eleições checadas pelo projeto “Fato ou Boato” do TSE. Ao todo, foram analisados 8.740 tweets, 6.685 falas falsas e 388 notícias falsas. O estudo pode ser lido na íntegra aqui.

Twitter teve ápice dos ataques no dia da reunião com embaixadores

Um outro estudo, desta vez desenvolvido por pesquisadores da Universidade do ABC Paulista (UFABC), mostrou que entre julho e agosto do ano passado, às vésperas das eleições presidenciais, discursos hostis à integridade eleitoral partindo majoritariamente da base bolsonarista explodiram no Twitter, questionando as urnas e atacando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Realizado por Patrícia Dias, Claudio Luis de Camargo, Laura Damaceno e Denise Hideo, o estudo mostrou que o ápice dos ataques se deu principalmente no 18 de julho de 2022, primeiro dia de coleta das informações e data que coincide com a reunião de Bolsonaro com embaixadores, episódio que está no centro do julgamento do TSE. Porém, correlações diretas entre os episódios não foram feitas pelos autores.

Além disso, os pesquisadores também identificaram as principais palavras repercutidas no debate, polarizado entre bolsonaristas e oposicionistas do governo Bolsonaro. “Urnas eletrônicas”, “voto impresso” e “Alexandre de Moraes” aparecem em destaque no polo de apoio ao governo da época. Já a oposição repercutiu temas como “Genocida” e “Nunes Marques” e “terrivelmente evangélico”. 

O artigo foi publicado em abril deste ano no periódico científico Revista Debates e analisou, no período estabelecido, mais de 2,8 milhões de tuítes entre os dias 18 de julho e 22 de agosto de 2022.

Julgamento do TSE continua nesta terça-feira

Tanto os ataques de Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas como o efeito online das afirmações entre seus apoiadores, culminando no ato golpista de 8 de janeiro, estão no centro do julgamento do TSE que pode tornar o ex-presidente inelegível até 2030 e que continua na noite desta terça-feira, 27 de junho.

O processo judicial começou na última quinta-feira, 22 de junho, e foi ajuizado pelo Diretório Nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que acusa Bolsonaro de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por ter transmitido, por meio da TV Brasil, uma reunião com embaixadores no dia 18 de julho de 2022 em que ele ataca diretamente a integridade eleitoral.

Na ocasião, o ex-presidente afirmou, sem provas, que fraudes no sistema da eleição podiam comprometer o resultado do pleito. O discurso também foi replicado nas redes sociais, o que está sendo considerado pela ação judicial como estratégia indevida de campanha eleitoral.

De acordo com protocolo da Corte, espera-se que hoje os ministros comecem o processo de votação. Porém, o resultado final e o destino político de Bolsonaro podem ficar para a terceira e última sessão do TSE, marcada para a próxima quinta-feira, 29 de junho.

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