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Artigo | Clódis Andrades-Filho, Lorenzo Mexias, Guilherme de Oliveira, Laurindo Guasselli, Claudia Sluter e Andrea Iescheck, do Sensoriamento Remoto, apresentam mapeamento de movimentos de massa ocorridos na Região dos Vales
*Por Clódis Andrades-Filho, Lorenzo Mexias, Guilherme de Oliveira, Laurindo Guasselli, Claudia Sluter e Andrea Iescheck
*Ilustração: Lilian Maus/ Programa de Extensão Histórias e Práticas Artísticas, DAV-IA/UFRGS
Os recordes advindos do evento extremo ocorrido entre o final de abril e o início de maio de 2024 são impactantes. Nas encostas dos vales do Rio Grande do Sul (RS) ocorreu o maior evento de movimentos de massa registrado no estado. Esse evento se caracterizou pela expressiva movimentação de solo e rochas nas encostas, cujos tipos principais são: deslizamentos / escorregamentos, fluxos de detritos e lama, queda de blocos e rastejamento do solo.
A região dos Vales, na escarpa sul do Planalto Meridional do RS, é reconhecida por belas paisagens. As características geológicas, geomorfológicas, pedológicas e de uso e cobertura da terra, contudo, somadas ao expressivo acumulado de chuva, especialmente entre 27 de abril e 13 de maio, proporcionou um dos maiores (se não o maior) eventos de movimentos de massa já registrado no Brasil. Tais ocorrências, além de destruírem estruturas e residências urbanas e rurais, causaram dezenas de mortes e registros de desaparecidos. Muitas áreas seguem com potencial risco e carecem de avaliação de condições de uso e habitação.
As áreas mais atingidas estão na Região Hidrográfica do Guaíba, nas bacias hidrográficas do Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto Jacuí e Vacacaí-Mirim, totalizando 89 municípios afetados. A região de abrangência impactada por movimentos de massa possui aproximadamente 12 mil km2, comparativamente, uma área maior que a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Essas marcas deixadas pelos movimentos de massa no terreno denominamos “cicatrizes”. Para auxílio das equipes de apoio geotécnico à Defesa Civil, Bombeiros e prefeituras na situação de calamidade pública, estão sendo mapeadas as cicatrizes visíveis em imagens de satélites de alta resolução (0,3m a 0,9m de resolução espacial).
A visualização das cicatrizes em imagens permite melhorar o planejamento do trabalho de campo e aperfeiçoar a análise de risco geológico. Muitas vezes, em campo, observam-se poucos metros de uma cicatriz de movimento de massa, mas em alguns casos pode ter até 2 km de comprimento, localizadas em encostas íngremes.
O último grande evento de movimentos de massa registrado no RS ocorreu em 2017 em Rolante, quando foram mapeadas 335 cicatrizes de movimentos de massa. No evento de 2011 na região serrana do RJ foram mapeadas 4.300 cicatrizes. No evento de 2024 no RS já foram mapeadas 2 mil cicatrizes somente nos vales do Taquari-Antas. Com relação a toda área de abrangência, estimamos que podem ser mapeadas mais de 10 mil cicatrizes.
Para o acesso facilitado desse mapeamento, foi criado um mapa virtual: WebMapa de Movimentos de Massa para equipes de apoio na situação de calamidade-RS – Maio de 2024.
Neste webmapa, é possível visualizar, medir e obter coordenadas geográficas das cicatrizes dos movimentos de massa mapeados pela equipe, assim como visualizar imagens, hidrografia, geologia, manchas de inundação, curvas de nível e pontos de movimentos de massa mapeados pela National Aeronautics and Space Administration (NASA).
A iniciativa é coordenada pelo Laboratório Latitude, sediado no Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM) da UFRGS, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto (PPGSR). Também foram confeccionados mapas digitais para impressão em papel.
O trabalho de campo multidisciplinar da UFRGS em apoio ao município de Santa Tereza, liderado por Instituto de Geociências e CEPED/RS, permitiu verificação in loco das cicatrizes de movimentos de massa mapeadas. A Prefeitura de Santa Tereza apoiou as atividades.
Na maioria dos municípios atingidos havia experiências prévias com inundações e enxurradas. Isso permitiu desenvolver estratégias de alerta e evacuação para esses eventos, mas não para os movimentos de massa.
A grande quantidade de movimentos de massa acrescentou às comunidades atingidas maior espanto e insegurança. Assim, maior também é o desafio ao ordenamento territorial em municípios onde predominam relevos marcados por planícies de inundação adjacentes a escarpas bruscas e íngremes.
Mapas integrados de suscetibilidade a inundações e movimentos de massa serão essenciais para estabelecer a aptidão dos locais à urbanização e indicar as diretrizes para projetos de reconstrução do estado e dos municípios.
Equipe envolvida no projeto: Clódis de Oliveira Andrades-Filho (coord.), Lorenzo Sampaio Fossa Mexias (coord.), Andrea Lopes Iescheck, Bárbara Giaccom, Beatriz da Rosa Cargnin, Claudia Robbi Sluter, Dafne Cavalheiro dos Santos, Édipo Cremon, Gabriel Schwarzer, Guilherme Garcia de Oliveira, João Igor Dorneles, José Antônio Cacciatore, Henrique Schmitt, Kleverson Ribeiro Novakoski, Laurindo Guasselli, Leandro Petry, Luana Daniela da Silva Peres, Mateus da Silva Reis, Milton Ribeiro Junior, Pâmela Boelter Herrmann, Raul Gick Schumacher, Renata Pacheco Quevedo, Sergio Mauricio Molano Cárdenas, Victor Matheus Soares.
Clódis de Oliveira Andrades Filho é professor no Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências e no Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto. Coordena o Laboratório Latitude da UFRGS.
Lorenzo Fossa Sampaio Mexias é geólogo, mestrando no Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto e membro do Laboratório Latitude da UFRGS.
Guilherme Garcia de Oliveira é professor no Departamento Interdisciplinar e no Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto e membro do Laboratório Latitude da UFRGS.
Laurindo Antonio Guasselli é professor no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências e no Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto.
Cláudia Robbi Sluter é professora no Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto.
Andrea Lopes Iescheck é professora no Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências e no Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto.