Apoiadores de atos golpistas ainda pedem Pix e compartilham desinformação

Publicado originalmente em Agência Lupa por Thays Lavor e Iara Diniz. Para acessar, clique aqui.

Ao menos 13 perfis que incentivaram atos golpistas em Brasília e pediram doações via Pix continuam ativos nas redes sociais propagando desinformação ou arrecadando contribuições. É o que mostra levantamento feito a partir da base de dados colaborativa Lupa nos Golpistas, fruto do formulário lançado no dia 8 de janeiro para receber denúncias de publicações antidemocráticas. 

Ao todo, 9 pessoas denunciadas à base permanecem alimentando discursos golpistas nas redes e 4 lançaram rifas, lives e outras ações para arrecadar dinheiro. Juntas, elas somam mais de 800 mil seguidores no Instagram e no Facebook. 

  • Este conteúdo foi produzido pela Lupa a partir da base de dados colaborativa de postagens antidemocráticas. Viu ou recebeu posts incitando os atos golpistas? Clique aqui e mande para a Lupa.
  • Agradecemos pela colaboração e pela ajuda. Com o apoio de todos, continuamos com o projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo no DF.

Um deles é João Bosco de Oliveira Melo, dono da página Bosco Foz, no Facebook, que acumula cerca de 100 mil seguidores. No dia dos ataques à Praça dos Três Poderes, ele publicou dois vídeos manifestando apoio aos atos. 

“Brasília está uma conturbação total porque os patriotas resolveram botar a mão na massa”, afirmou Melo em uma das gravações, exibindo, do conforto de sua casa, um compilado de imagens das invasões. Em uma das cenas, ele mostra uma porta arrancada com o nome do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e tenta justificar o vandalismo.

“Não que eu apoie isso, também nem desaprovo. Mas é a raiva do povo que eles mesmos  provocaram. As pessoas que deveriam nos respeitar, guardar nossa Constituição, elas que são responsáveis por tudo isso que está acontecendo. De ter enfurecido o povo”, alegou.

Melo finaliza o vídeo — que teve mais de 10 mil compartilhamentos — prometendo novas publicações e pedindo apoio financeiro. “Você que ajuda, tá aí o Pix [exibe número de telefone]. Sua ajuda é muito bem-vinda.”

As gravações continuam disponíveis tanto no Facebook quanto no Instagram do influenciador. Além disso, novos vídeos foram publicados contendo conteúdo desinformativo — a maioria deles a respeito do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — e pedidos de apoio financeiro. 

“Não feche os olhos para isso. Você pode ser o próximo. Apoie o canal”, diz a legenda de um vídeo publicado por Melo que tem como título “Campo de concentração no Brasil em 2023! Eis a primeira obra do novo governo”. A publicação foi compartilhada por mais de 45 mil pessoas.

Quem também continua arrecadando dinheiro com conteúdos golpistas é Iago Gomes de Andrade dos Santos. Ele é morador do Rio de Janeiro (RJ) e dono de ao menos quatro perfis diferentes no Instagram, todos eles em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Só em uma das contas, ele reúne 26 mil seguidores.

No dia 8 de janeiro, diversos conteúdos incentivando atos de vandalismo e pedindo ajuda financeira via Pix foram publicados. “Invadimos o Congresso! […] Nos ajude a resistirmos aqui em Brasília-DF”, diz a publicação, que exibe os dados bancários e pessoais de Santos. 

Em outra publicação, ele orientava manifestantes em São Paulo a invadir as sedes das TVs Globo e Bandeirantes. “Essas duas emissoras estão distorcendo as informações. Foco neles agora”, diz o texto publicado.

Após os ataques no Distrito Federal, as contas comandadas por Santos continuam pedindo doações via Pix e compartilhando desinformação. No dia 16 de janeiro, uma delas publicou repetidas vezes a informação de que o governo Lula teria aumentado o auxílio-reclusão para R$ 1.754, valor acima do salário mínimo. O conteúdo foi verificado pela Lupa e é falso. Outros posts pedem contribuições para “ajudar os patriotas que estão presos”.

O perfil de Jorge Anthonny Chediak Rezende Filho também aparece entre os denunciados à Lupa nos Golpistas. O advogado goiano administra duas contas no Instagram e reúne mais de 370 mil seguidores. Prints mostram que, em ao menos duas situações diferentes, em dezembro de 2022, Chediak disponibilizou sua chave Pix em publicações de apoio a atos antidemocráticos.

“Pix para contribuir é o celular 62 [número ocultado pela reportagem], Jorge Chediak. O presidente [Bolsonaro] está no [Palácio da] Alvorada! Não viajou coisa nenhuma”, alegava a legenda de um vídeo publicado em uma de suas contas. O advogado também fixou seus dados bancários em uma live realizada na porta do Quartel-General do Exército, em Brasília.

Também há registros de o advogado anunciando pelo Instagram estar realizando a transmissão de “tudo o que está acontecendo” na capital federal via YouTube. Em seu canal, em vídeo publicado no dia 18 de dezembro – e que ainda está online –, ele menciona o “indivíduo que tem cabeça que parece um ovo”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e diz estar “aguardando que seja feita a garantia da lei e da ordem”, pois “a maioria da população acredita e certamente foi enganada” em relação ao processo eleitoral.

Já em outro vídeo publicado no dia 4 de janeiro no canal no YouTube, que ainda está online, Chediak faz várias críticas ao governo Lula e finaliza a mensagem com um chamado aos apoiadores: “Venham pra Brasília. Participem, não importa se você vai estar no QG, se você vai estar na Esplanada, não interessa. Esteja em Brasília”.

Chediak ainda compartilhou conteúdos com desinformação nas redes sociais. Em uma de suas publicações recentes, denunciava que o Partido dos Trabalhadores (PT) teria destinado R$ 10 bilhões para a Cultura e R$ 1,5 bilhão para o agronegócio. A informação é falsa, como mostrou checagem da Lupa.

O advogado tem situação regular na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e é responsável pela defesa de George Washington de Oliveira, preso em dezembro por planejar um atentado com bombas nas proximidades do aeroporto de Brasília.

Lupa procurou todas as pessoas citadas na reportagem. Por mensagem, o advogado Jorge Chediak disse que nunca incitou manifestantes a irem à Esplanada dos Ministérios em seu perfil. “Eu não tive absolutamente nada a ver com a tragédia que aconteceu dia 8, eu fui totalmente contra o que aconteceu”, declarou. “[No] dia 8 eu nem estava em Brasília. […] Eu fui no QG algumas vezes, auxiliei no dia da ceia apenas, e nada mais”, completou.

Já Iago Gomes de Andrade dos Santos informou, inicialmente, que faz pedidos de doações, com frequência, para ir a Brasília, mas que não estava nos atos de 8 de janeiro. Ao ser questionado sobre o conteúdo desinformativo dos posts, que também incitam atos golpistas, ele perguntou: “Não tenho liberdade em postar? Não posso fazer nada que seja antidemocrático?”. Em seguida, ele apagou as mensagens que havia enviado.

João Bosco de Oliveira Melo disse ser um jornalista independente que realiza seu trabalho pelas redes sociais. Ele alegou, em mensagem enviada à Lupa, que não compartilha desinformação, mas faz uma “divulgação dos fatos como eles são, sem tradicional manipulação do mainstream”.

Melo também afirmou que não apoia atos de violência e vandalismo, como foram vistos em Brasília, e que a chave PIX disponibilizada em seus vídeos são em apoio exclusivamente ao seu trabalho e “jamais para ajudar ou financiar qualquer movimento”. 

Em decorrência dos ataques em Brasília, a Lupa pede a colaboração de seus seguidores para montar uma base de dados que reúna postagens antidemocráticas feitas em redes sociais ou aplicativos de mensagem. Este é um projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo. Se você viu ou ouviu alguma postagem convocando para os ataques, colabore preenchendo este formulário. O conteúdo será usado para fins jornalísticos e/ou de pesquisa, e pode ajudar em futuras investigações sobre as invasões de 8 de janeiro de 2023.

Editado por

Leandro Becker e Bruno Nomura

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