Publicado originalmente em COVID-19 DivulgAÇÃO Científica por Catarina Chagas. Para acessar, clique aqui.

Mutações e surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19, são fenômenos naturais. A única forma de evitá-las é a imunização em massa da população, por meio da vacinação.

Todo vírus que circula em hospedeiros, sejam eles humanos ou não, sofre mutações em seu material genético – as mutações nada mais são que erros durante a multiplicação do vírus, gerando descendentes ligeiramente modificados. Boa parte desses erros não dá em nada e acaba sumindo naturalmente. Outras mutações aumentam a capacidade de o vírus ser transmitido de pessoa para pessoa, o que acaba fazendo com que vírus que carregam essas mutações – as chamadas novas variantes – se tornem mais comuns.  É exatamente isso o que acontece com o SARS-CoV-2, coronavírus causador da COVID-19, que já infectou mais de 111,5 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Nos últimos dias, circula no Twitter uma postagem enganosa segundo a qual “a cepa de coronavírus de 2ª e 3ª ondas foi artificialmente projetada”. Não há, na literatura científica, indícios de que isso seja real.

Mutações são um fenômeno muito comum entre os vírus – na verdade, qualquer organismo pode, na hora de gerar um descendente, cometer erros genéticos. Portanto, não há motivos para acreditar que as novas variantes do SARS-CoV-2 tenham sido criadas intencionalmente. “É um fenômeno natural que acontece durante a replicação viral”, afirma a geneticista Ana Tereza de Vasconcelos, do Laboratório Nacional de Computação Científica. “As mutações ocorrem o tempo inteiro e existem, inclusive, mecanismos naturais de correção dessas mutações. Mas algumas mutações passam despercebidas por esse sistema de correção e seguem se perpetuando. À medida em que há mais gente circulando, pessoas tendo contato umas com as outras, esses vírus com mutações vão se tornando mais comuns na população”.

Ela explica que boa parte das mutações já observadas no SARS-CoV-2 tem relação com a proteína Spike, a região do vírus que se liga às células humanas. “Observamos mutações nessa área específica, o que mostra que o vírus está tentando ‘escapar’ do sistema imunológico de seu hospedeiro, o ser humano”, avalia.

Importância da vacinação

Sobre a relação entre novas cepas ou variantes e a segunda e a terceira ondas de infecções pelo SARS-CoV-2, a especialista diz que, no Brasil, não faz nem sentido pensar nas famosas “ondas” da COVID-19. Se, em alguns países, é possível visualizar claramente picos de infecções pelo SARS-CoV-2 em determinados períodos do último ano, seguidos por queda nos números (o que gera gráficos com imagens como ondas que sobem e descem), no Brasil, não foi assim que a doença se comportou.

“Na Europa, após o verão, as medidas de distanciamento foram relaxadas e houve, em seguida, um aumento no número de casos de COVID-19, pois o vírus voltou a circular livremente entre as pessoas que pararam de fazer o isolamento”, esclarece Vasconcelos. “No caso da Inglaterra, foi possível associar o aumento dos casos ao surgimento da mutação B.1.1.7. Sabe-se hoje, segundo estudos epidemiológicos e estatísticos, que essa nova linhagem tem uma capacidade de transmissão 50% superior”. No caso do Brasil, explica a pesquisadora, como não houve medidas adequadas e amplas de distanciamento social, não é possível distinguir entre primeira, segunda e terceira ondas. Mais de 10 milhões de casos já foram registrados.

Quanto mais o vírus circula e se multiplica, maior a chance de que ele sofra mutações e gere novas variantes. Algumas delas poderão ser especialmente nocivas ao ser humano. Nossa melhor aposta para evitar novas variantes do SARS-CoV-2 é, portanto, fazer com que o vírus deixe de circular com tanta intensidade. “Por isso, é superimportante que a população esteja vacinada”, conclui a especialista. A prática do distanciamento social, assim como o uso de máscaras, também são formas de frear a circulação do vírus na população.

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