Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Por Bruno Teixeira
A cada quatro anos, temos a oportunidade de acompanhar a maior celebração do esporte: os Jogos Olímpicos, que em 2024 acontecem em Paris até o dia 11 de agosto. Junto com a inspiração e o entretenimento proporcionados pelos melhores atletas do mundo, nos vemos mais uma vez debatendo o investimento no setor pela perspectiva quase exclusiva da performance internacional.
Da mesma forma que, enquanto torcedores, nos deparamos equivocadamente com o discurso da perda do ouro versus à conquista da prata, muitas vezes os quadros de medalhas têm sido posicionados como o principal indicador de sucesso de uma nação esportiva. Outro equívoco. Limita-se o potencial da excelência esportiva, assim como se restringe a compreensão social do esporte.
Tendo como referência nosso arcabouço jurídico, essas reflexões deveriam considerar ao menos três dimensões: o esporte educacional, com foco no desenvolvimento integral do indivíduo e na sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; o esporte de participação, com a finalidade de contribuir com a plenitude da vida social e a promoção da saúde dos praticantes; e o esporte de rendimento, visando resultados e a integração do país com outras nações.
É a partir dessa visão holística que o esporte ganha mais relevância e que se justifica a urgência de mais investimento público no setor, assim como privado, principalmente com um cenário cada vez mais alarmante de inatividade física no Brasil.
Dados do Ministério da Saúde de 2021 apontaram que 48% da população com 18 anos ou mais das capitais brasileiras não atendiam ao mínimo de atividade física recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela própria pasta. As mulheres (56%) e os idosos (73%) apresentaram os números mais críticos.
Como consequência, calcula-se que 15% dos custos do SUS com internações são atribuíveis à inatividade física. Pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense, em 2021, constatou que o impacto econômico da inatividade física de brasileiros, em diferentes regiões do país, representou gastos de cerca de R$ 300 milhões em 2019, somente com internações.
No outro lado, os estudos são consensuais ao defender a promoção de vidas mais ativas, o que inclui o fortalecimento de agenda do esporte e da atividade física em suas diferentes dimensões. Pesquisa da Unesco sobre a necessidade do investimento em educação física de qualidade para recuperação dos efeitos negativos da pandemia destaca como potenciais benefícios: redução da obesidade em até 30%; aumento dos resultados acadêmicos em até 40% e colaboração para diminuição da depressão e ansiedade em até 30%, principalmente em meninas.
Nesta direção, projeções do Núcleo de Estudos da Saúde, da Previdência e da Assistência Social da Fundação Getulio Vargas estabelecem que para cada real investido em esporte no Brasil há um retorno de R$ 8,59 em melhorias sociais – saúde, educação, luta contra o crime e geração de empregos, entre outros indicadores.
Portanto, assim como não devemos restringir os feitos dos nossos atletas a números – afinal, não é possível medir persistência, determinação e superação, entre tantos outros admiráveis valores e conquistas -, também não podemos pautar a visão de uma nação esportiva apenas a partir de suas posições (ou não) no pódio ou em quadro de medalhas. Nossa maior vitória precisa ser garantir acesso ao esporte como direito de cada cidadão.
Sobre o autor
Bruno Teixeira é mestre em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getulio Vargas e atua como executivo de responsabilidade social corporativa e comunicação no mercado esportivo.