Agentes de saúde devem adaptar práticas às vivências das mulheres indígenas durante gravidez e pós-parto

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Estudo da Universidade Franciscana de Santa Maria e parceiros entrevistou 27 gestantes e puérperas indígenas no Mato Grosso
  • Resultados mostram que é preciso aumentar número de médicos nas aldeias e melhorar o acesso das mulheres a exames e medicamentos
  • Também são necessárias estratégias para o fortalecimento do vínculo com agentes de saúde próximos, que devem respeitar as culturas indígenas

Para melhor assistência às mulheres indígenas gestantes e puérperas, é preciso ampliar a presença de médicos nas aldeias e o acesso a medicamentos e exames para atendimento imediato de casos especiais. Profissionais de saúde também precisam respeitar as vivências indígenas para acolher as mulheres a partir de suas especificidades culturais. Esta é a recomendação de artigo científico publicado nesta sexta (11) na “Revista Brasileira de Enfermagem” por pesquisadores da Universidade Franciscana de Santa Maria (UFN), das federais do Maranhão (UFMA) e Amazonas (Ufam) e da Universidad Católica del Maule, do Chile.

A equipe realizou uma pesquisa qualitativa baseada em entrevistas com 27 gestantes indígenas do estado do Mato Grosso. A maioria delas, 23, teve parto por via vaginal e ocorrido na própria aldeia. A análise dos dados da entrevista permitiu identificar temáticas recorrentes para essas mulheres, como a valorização do parto natural e do aleitamento materno. De forma geral, as entrevistadas veem o percurso natural no nascimento como forma de respeito a práticas sagradas, além de atender as necessidades de cada bebê e possibilitar o convívio com a família na aldeia.

“Surpreendeu-nos o quanto as mulheres indígenas valorizam e reconhecem o seu saber e as suas práticas singulares para o desenvolvimento sustentável”, avalia Dirce Stein Backes, professora da UFN e autora do estudo. “Se, por um lado, o saber científico evolutivo nos conduziu às melhores evidências científicas, por outro criou cegueiras e miopias hegemônicas que nos distanciaram do saber dos povos originários”. acrescenta. Por isso, o estudo aponta que é importante uma aproximação mais efetiva dos profissionais de saúde, especialmente os médicos, com as gestantes e puérperas indígenas.

Backes também ressalta que os resultados da pesquisa devem orientar gestores locais para atentar à alimentação das gestantes e puérperas indígenas — considerando que muitas entrevistadas relataram fraqueza. Cansaço e desânimo também foram reportados — principalmente durante a amamentação. Apesar de as mulheres somente interromperem o aleitamento a partir do nascimento do próximo filho, a recorrência de mal-estar nessas circunstâncias reforça a importância de políticas específicas de apoio às puérperas para que a prática siga sendo culturalmente aceita.

A equipe também recomenda o investimento em cursos de qualificação dos agentes indígenas de saúde. “As mulheres indígenas preferem ser assistidas e orientadas por profissionais de saúde indígena, pela compreensão sólida de práticas culturalmente aceitas e estimuladas”, destaca a autora.

O Programa em Saúde Materno Infantil da UFN, coordenado por Backes, trabalha atualmente com pesquisadores de instituições nacionais e internacionais na qualificação dos agentes indígenas de saúde, das equipes de saúde hospitalar e da equipe das Casas de Saúde Indígena (Casai). Entre outras ações realizadas para melhorar a assistência às mulheres indígenas, estão a suplementação alimentar e nutricional das gestantes e puérperas indígenas e a realização de teleconsultas. “O projeto visa sensibilizar os profissionais da saúde em relação aos cuidados, direitos e a valorização da cultura dos povos originários, em uma perspectiva humanística e prospectiva”, revela a pesquisadora.

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