Publicado originalmente em Âncora dos Fatos. Para acessar, clique aqui.
Durante um dos blocos do debate da Band com os candidatos à presidência da República, o qual ocorreu na noite de domingo, 28, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), atacou a jornalista Vera Magalhães, da Tv Cultura, enquanto ela dirigia uma pergunta ao Ciro Gomes (PDT), com comentário que poderia ser feito pelo Bolsonaro. “A cobertura vacinal no Brasil vem despencando nos últimos anos. A cobertura para vacinar a tríplice viral foi de 71% em 2021 e ainda não chegou a 51% nesse ano. O senhor acha que a desinformação sobre vacinas difundida inclusive pelo presidente da República pode ter contribuído além de agravar a pandemia da Covid-19 e causar mortes que poderiam ter sido evitadas e qual a sua proposta para recuperar o plano de imunização?”, perguntou a jornalista.
Ataque à Vera Magalhães
Ofendido com a pergunta a Ciro, Bolsonaro atacou Vera Magalhães com ofensas. “Eu acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim, você não pode tomar partido, você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, enfatizou Bolsonaro em tom de ataque à jornalista.
Diante do acontecido, Ciro Gomes repudiou a fala de Bolsonaro e a candidata à presidência Simone Tebet (MDB) se pronunciou. Ela também foi atacada por Bolsonaro, que questionou sua atuação na CPI da Covid. “Quero dizer para o presidente da República e nem é para o candidato: que fabrica fake news e fabrica inverdades. Eu não tenho medo do senhor. Recebi violência política na CPI e pior que isso um ministro seu tentou me intimidar porque eu denunciei a questão da vacina que vossa excelência não quis comprar”, disse a candidata.
A candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, também repudiou a fala do presidente ao se dirigir a uma mulher. “Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vem pra cima da gente sendo tigrão eu fico extremamente incomodada. E digo mais: eu não aceito esse tipo de comportamento e xingamento. E disseminar ódio entre os brasileiros. Minha solidariedade à Vera”, ressaltou.
Abraji se pronuncia
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou uma nota em que repudia a ação do presidente Jair Bolsonaro contra a jornalista Vera Magalhães.
“Durante o debate organizado por um pool de imprensa, na noite deste domingo, Jair Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães. Essa atitude reitera uma prática machista e misógina adotada por ele e que vem sendo monitorada pela Abraji em levantamento com recorte de gênero. A Abraji se solidariza com a jornalista e exige que o presidente respeite as profissionais que trabalham na imprensa”, destacou.
Violência contra jornalistas mulheres
Um mapeamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostra que o Brasil registrou, no ano passado, um aumento de 79% no número de ataques contra mulheres jornalistas ou com viés de gênero.
Ao todo, foram 119 ocorrências desse tipo, o que corresponde, em média, a um episódio de violência a cada três dias. De acordo com a Abraji, 95% dos autores identificáveis dos episódios de violência eram homens, 68% das agressões se iniciaram no meio online e 60% dos casos envolveram a cobertura política.
O levantamento ainda revela que 52% desses autores identificáveis por trás dos ataques eram autoridades públicas.
“O apelo ao gênero e à sexualidade não é incidental: em sociedades com presença de valores conservadores, esse tipo de ataque é uma forma de minar a credibilidade do jornalismo profissional e de desviar a atenção do conteúdo da notícia”, afirma a Abraji.
Em janeiro de 2021, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) havia divulgado que 41% dos ataques a veículos de comunicação também foram feitos pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, dentre tentativas de descredibilização, agressões verbais e ameaças. Grande parte dessas ocorrências foram destinadas a mulheres.
Lei mais em sobre Mulheres jornalistas sob ataque no site da Abraji