Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
Começou nesta terça-feira (19) a 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. O evento, que reúne os mais de 190 países-membros para debaterem políticas internacionais, começou com discurso de António Guterres, secretário-geral da ONU, que falou sobre a crise democrática e os desafios impostos pela tecnologia.
“A democracia está sob ameaça. O autoritarismo está em marcha. Desigualdades estão se aprofundando”, enfatizou Guterres. “A exclusão digital está agravando as desigualdades. O discurso de ódio, a desinformação e as teorias da conspiração nas plataformas das redes sociais são disseminados e amplificados pela IA, minando a democracia e alimentando a violência e os conflitos na vida real. A vigilância online e a coleta de dados estão permitindo violações dos direitos humanos em grande escala e as empresas tecnológicas e os governos estão longe de encontrar soluções”, pontuou o secretário-geral em outro momento do discurso. “Novas tecnologias exigem novas formas inovadoras de governança”, enfatizou.
Logo em seguida, discursou o Presidente da Assembleia Geral da ONU e diplomata de Trinidad & Tobago, Dennis Francis, que precedeu o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva. Essa é a oitava participação do petista no evento. No seu discurso, Lula relembrou a primeira vez que esteve na Assembleia Geral e pontuou o seu retorno à presidência do país. “Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país. A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão. A esperança, mais uma vez, venceu o medo”, destacou.
O presidente Lula falou sobre o avanço das mudanças climáticas, enfatizou as desigualdades sociais e pontuou os desafios reforçados pela internet. “O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar”, mencionou. “Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos. Aplicativos e plataformas não devem abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos”, acrescentou Lula ao lembrar que o Brasil sediará o G20 e tratará de temas correlatos, como o desenvolvimento de inteligência artificial.
Em seu discurso, o presidente brasileiro também indicou a necessidade de se preservar a liberdade de imprensa e “advogou” em causa de Julian Assange – fundador do site WikiLeaks que publicou uma série de documentos sigilosos -, que atualmente está sob custódia em Londres. “Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima” disse Lula.
As políticas públicas voltadas para grupos minorizados também foram mencionadas no discurso. O presidente brasileiro destacou a aprovação da lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função e discursou contra a violência contra as mulheres e em favor dos direitos de grupos LGBTQIA+ e pessoas com deficiência.
Presidente erra ao citar produção de biodiesel
Segundo checagem feita pela Agência Lupa, o presidente Lula errou ao comentar que a produção de biodiesel cresce a cada ano. Boletim produzido pelo Ministério de Minas e Energia mostra que, em 2022, houve queda na produção de biodiesel no país, de 7,5%, em relação a 2021 (página 10). O Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, produzido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), aponta tendência semelhante: diminuição de 7,6% na produção de biodiesel no mesmo período.
A Lupa também ressaltou que o presidente falhou quando disse que em 2003 o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade do problema da crise climática, que vem sendo debatida, pelo menos, desde 1992 quando o Rio de Janeiro sediou a Eco-92.