A iniciação científica também prepara para o mercado | Vida Acadêmica

Publicado originalmente em Ciência UFPR por André Bellin Mariano. Para acessar, clique aqui.

Habilidades profissionais, rede de contatos, gestão de projetos: tudo isso se ganha com experiência em IC na graduação

Aciência é o alicerce da sociedade moderna capaz de impulsionar desenvolvimento, solucionar problemas e melhorar a qualidade de vida. Tem levado a novos medicamentos, tecnologias e práticas que melhoraram nossa saúde, nossa capacidade de comunicação e de produzir alimentos. Com pesquisas e desenvolvimento contínuos, podemos avançar: curar doenças, desenvolver tecnologias para gerar energia renovável e assim enfrentar a crise climática. Até explorar outros planetas.  

Talvez seja difícil acertar o final dessa história, mas consigo mostrar onde a jornada começa. É com a iniciação científica (IC), o primeiro passo para nos tornarmos pesquisadores, o primeiro contato dos universitários com a ciência. Com a ajuda de orientador e grupo de pesquisa, os estudantes são guiados e capacitados para atuar em projetos de pesquisa. Essa oportunidade os desafia a se aprofundarem em uma área específica da ciência, estimulando a leitura de artigos e a busca pelo estado da arte sobre o tema. 

No meu caso, a jornada começou no segundo ano de graduação. Durante dois anos fui bolsista do CNPq no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, sob orientação da professora Eva Carnieri. Os desafios e a mentoria me ajudaram a forjar as competências para atuar como pesquisador. Levei a bagagem para o doutorado e até hoje aplico no meu dia a dia. 

Além de preparar pesquisadores, a IC tem impacto significativo na formação de profissionais para o mercado. Sim, a IC viabiliza capacitação científica para áreas específicas e gestão de projetos. Mas os ganhos vão além: alunos aprendem sobre resiliência, gestão de tempo, pensamento inovador para resolver problemas complexos, comunicação, aprimoram o nível de inglês e criam rede de relacionamento profissional (networking). Participar de projetos de pesquisa nos tira da zona de conforto (quando ela existe). É árduo conciliar graduação com 20 horas de trabalho extras em laboratório. Mas há retorno.  

Antes de pôr a mão na massa, ou seja, ir para o laboratório, os alunos são treinados nas metodologias do grupo de pesquisa — processo parecido com a imersão em uma empresa de engenharia ou tecnologia. Geralmente são metodologias complexas não aprofundadas na graduação. O treinamento aperfeiçoa a perfeição do método, a fim de que os resultados variem pouco e tenham representatividade estatística. A IC forma estudantes para organizar experimentos científicos de modo a não desperdiçarem tempo ou recursos.  

Na IC aprendemos que a fonte do conhecimento está disponível em artigos científicos publicados em revistas qualificadas. Respeito à ciência e à pesquisa escrutinada vale ouro em termos de diferencial de mercado. Isso leva a que toda pesquisa deve ser divulgada. Portanto, à capacitação da comunicação escrita, ao preparar artigos para publicação em eventos e revistas. E à da comunicação oral para defender a pesquisa em público. 

Durante a IC, há o estímulo para que alunos apresentem as pesquisas em eventos no Brasil e no exterior. Além de conhecer lugares, criam uma rede de contatos que gera oportunidades para intercâmbios, colaborações e participação em programas de pós-graduação em outros países.  

Ficou interessado? Ótimo! Conheça os grupos de pesquisa e quais estudos estão em andamento na sua universidade. Alguma linha de pesquisa vai despertar o seu interesse. Mesmo que não queira ser cientista no futuro, participe desse processo formativo. Tudo o que aprender vai colaborar para o seu sucesso profissional no mercado de trabalho ou ainda na criação da sua empresa. 

ANDRÉ B. MARIANO é professor do Departamento de Engenharia Elétrica (DELT) da UFPR, pesquisa energias renováveis e atua com comunicação de ciência e extensão por meio do projeto Ciência para Todos. Também é bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do CNPq (Nível 2); vice-coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia Autossustentável (NPDEAS); e líder do grupo de pesquisa i9UFPR: Ecossistema de Inovação. Estreou na coluna “Vida Acadêmica” em 2023.
 Publicado originalmente na Revista Ciência UFPR (V. 6, nº 7, 2023).

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