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Elisa Tobias*
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No início dos anos 2000, quando serviços de tradução online começaram a se popularizar, muitos questionaram se a profissão de intérprete de línguas iria desaparecer. Com tanto avanço tecnológico, seria necessário aprender um novo idioma? Que futuro teriam as centenas de escolas de línguas espalhadas pelo País?
Passados mais de vinte anos, pouca coisa nesse sentido mudou. Se quisermos ter uma boa conversa com outro ser humano, não é possível fazer isso de forma eficiente digitando tudo no “tradutor”, por mais que esses dispositivos estejam sendo cada vez mais aperfeiçoados. Em 2023, com a explosão do ChatGPT, uma inteligência artificial generativa, isto é, um robô capaz de gerar conversas por escrito, responder a perguntas variadas e dar conselhos pessoais, novamente assistimos à tecnologia ser motivo de apreensão e dúvidas.
Com a plataforma, é possível resolver questões de diversos temas, preparar resumos e produzir trabalhos acadêmicos. Seu diferencial é que o sistema aprendeu a conversar e a interagir de forma bastante semelhante à de um ser humano. O Chat GPT não apenas reproduz o que lhe é pedido, como consegue criar coisas novas.
Do ponto de vista educacional, uma das reflexões mais comuns trata da impossibilidade de detectar se um texto foi desenvolvido por um estudante ou se contou com a ajuda de inteligência artificial, gerando angústia em muitos educadores e educadoras. Profissionais ao redor do mundo vêm levantando o debate sobre como isso pode ser um novo paradigma para as escolas e os sistemas de ensino.
Ensinar e aprender sabendo que os robôs estão disponíveis é algo que deve contar, portanto, com a ajuda da educação midiática. O uso crítico das tecnologias mostra-se como um caminho para que os alunos e alunas aprendam a avaliar a confiabilidade das informações, e também para que as instituições de ensino considerem esse tipo de ferramenta como um possível apoio no processo de ensino-aprendizagem.
Por mais que ainda seja difícil avaliar os benefícios desse tipo de tecnologia na sala de aula, algumas iniciativas já vêm sendo realizadas com bons resultados. O portal “Ditch That Textbook” apresenta algumas propostas, como o uso na elaboração de planos de aula, ou uma fonte de respostas rápidas para perguntas que surgem entre os estudantes. Traduções para língua estrangeira também podem ser realizadas de forma ágil.
A melhor solução para esse dilema não é bloquear ou tentar banir a inteligência artificial na escola, já que os estudantes podem utilizá-la por meio de dispositivos móveis ou mesmo em casa. É importante lembrar que muitas vezes as informações disponibilizadas pelos robôs são carregadas de conteúdos tendenciosos, dados imprecisos e não estão devidamente atualizadas. O que as crianças e jovens não podem perder de vista é a capacidade de refletir sobre a origem e a intenção das informações disponíveis na internet.
Mais do que meros operadores de robôs, os estudantes precisam ser educados criticamente em relação ao uso da inteligência artificial. A tecnologia deve ser encarada como suporte e apoio educacional, não como fonte única e restrita de conhecimento. Dessa maneira, eles conseguirão utilizar os avanços tecnológicos existentes para facilitar o cotidiano, evitando uma possível dependência digital.
Em tempos como o que vivemos, o papel dos educadores é vital. Independentemente da tecnologia a ser utilizada, cabe às equipes pedagógicas incentivarem a reflexão sobre aquilo que os estudantes manuseiam e consomem midiaticamente. É preciso oferecer a eles o contato com as técnicas de análise crítica de leitura e escrita, habilidades incentivadas pela educação midiática. Assim, poderão agir com autonomia para participar da sociedade, que muda em uma velocidade quase impossível de acompanharmos.
*Elisa Tobias é educomunicadora e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta