Publicado originalmente em *Desinformante por Rodolfo Vianna. Para acessar, clique aqui.
Neste ano eleitoral as redes sociais foram inundadas de informações sobre supostos cancelamentos de títulos de eleitores de pessoas idosas e outras mensagens inverídicas tendo a população 60+ como alvo. Ainda em abril, mensagens com discursos focados em idosos representaram mais da metade da desinformação sobre títulos de eleitor detectada pelo Radar, da Agência Aos Fatos, que monitorou 220 grupos de discussão política no WhatsApp: 284 postagens falsas relacionadas a cadastramentos eleitorais circularam 567 vezes. Dessas, 158 (54%), encaminhadas 290 vezes, miraram essa faixa etária.
Próximo ao pleito, circulou desinformação que relacionava a validade do comprovante eleitoral como prova de vida para aposentados do INSS (que é verdade desde publicação de portaria do instituto em fevereiro deste ano) mas a fake news acrescentava que esta validade estaria atrelada ao voto em determinado candidato à presidência. A campanha eleitoral de Bolsonaro foi obrigada pelo TSE a retirar uma peça publicitária que poderia insinuar determinada relação, e o boato desmentido pela Justiça Eleitoral.
No último mês, relatório produzido pela Novelo Data detectou que alguns canais de youtube voltados a informações sobre benefícios sociais passaram a produzir vídeos atrelando enganosamente o projeto de lei que criaria um 14º salário para aposentados, por dois anos, emergencialmente (que tramita na Câmara dos Deputados, de autoria do Pompeu de Mattos, do PDT-RS) à figura do candidato Bolsonaro.
Importante ressaltar que a população 60+ representa por volta de 20% do eleitorado brasileiro, segundo dados do TSE. Em números absolutos, o comparecimento de idosos das faixas facultativas (70 anos ou mais) aumentou de 4,5 milhões há quatro anos para 6,1 milhões nesta eleição.
Pesquisa realizada pela Federação dos Brasileira dos Bancos (Febraban) mostra que 44% da população 60+ ainda sente medo e insegurança quando se utilizam da internet. Para Bruno Ferreira, especialista em educação midiática e assessor pedagógico do EducaMídia, programa do Instituto Palavra Aberta, esta sensação pode estar relacionada ao fato de que “o público 60+ muitas vezes já está há bastante tempo afastado da escola, das escolas formais, e também do mercado de trabalho. E por essa razão podem ter mais dificuldade de compreender alguns mecanismos, de refletirem sobre a sua presença digital, sobre o que fazem na internet”.
Aplicativos de troca de mensagens e redes sociais são os mais utilizados, justamente os tipos de plataformas que concentram a circulação de desinformação e fake news.
A partir da necessidade observada de se construir um programa de educação midiática voltado especificamente ao público mais velho, o Instituto Palavra Aberta criou o EducaMídia 60+.
Educação midiática e prevenção de golpes
Por mais que fake news e golpes tenham a intenção de enganar, elas são mensagens de objetivos e de teores diferentes, na visão de Ferreira. O EducaMídia 60+ criou um módulo específico sobre golpes, para além daquele sobre desinformação e fake news. “As fake news querem passar uma impressão da realidade diferente, uma impressão enganosa da realidade para que as pessoas possam aderir a uma ideia de forma equivocada. E o golpe quer tirar um proveito particular da pessoa, relacionado à vantagens financeiras”.
Mas por mais que sejam fenômenos distintos, as dicas para evitar ser alvo tanto de desinformação/fake news quanto de golpes virtuais são as mesmas: desconfiar e verificar a informação.
A principal dica que traz o EducaMídia 60+ é a necessidade de olhar com cuidado para uma mensagem e não reagir a ela automaticamente, emocionalmente. “A gente sempre fala sobre a necessidade de, diante de uma mensagem, pausar. Olhar para essa mensagem com tranquilidade e primeiro refletir qual teria sido a intenção de quem a criou ou de quem enviou essa mensagem para mim”, enumera Bruno Ferreira. Em um segundo momento, verificar a confiabilidade dessa informação.
Se é um golpe, um potencial golpe, dizendo “olha, eu sequestrei tal pessoa” ou “olha que vantagem interessante que essa marca está oferecendo”, é importante sempre verificar a informação recebida. “Tente contato por outros meios com essa referida pessoa, veja no Google se o site que foi enviado para você dizendo sobre uma megapromoção ou sobre uma grande vantagem é de fato o site oficial, ou o canal oficial nas redes sociais” exemplifica o assessor pedagógico.
O efeito emocional que é utilizado pelas fake news, como sensacionalismo e sentido de urgência, também é ferramenta na aplicação de golpes. Preços de produtos muito abaixo dos praticados pelo mercado, ou necessidade urgente de entrar em contato com o banco por canais não oficiais devido a problemas graves são estratégias recorrentes.
Sempre é recomendado pausar e depois verificar se uma abordagem, se uma informação condiz com a realidade, “porque a gente é tomado por uma emoção muito forte e a nossa tendência é sempre reagir imediatamente. O que a gente diz é: não reaja. Primeiro, tire um tempinho, alguns poucos segundos para verificar, às vezes, já é suficiente para a gente não cair nem em fake news, nem em golpes”. O *desinformante preparou uma cartilha com passo a passo para evitar cair em golpes financeiros.
Bruno Ferreira conclui recomendando que é importante “sempre investigar, desconfiar, mas desconfiar seguido de uma atitude que é verificar. Confirmar aquela informação. Às vezes a gente pode estar diante de uma boa vantagem, por que não? Mas se a gente verifica, a gente toma a atitude de aderir a alguma oferta com mais segurança”.