Por Ana Regina Rêgo. Texto também disponível em Jornal O Dia e Portal Acesse Piauí.
O IDEA- International Institute for Democracy and Electoral Assistance com sede na Suécia e que acompanha processos eleitorais em todo o mundo, publicou recentemente o Relatório: O AMBIENTE DE INFORMAÇÕES ONLINE EM TORNO DAS ELEIÇÕES, uma análise global da desinformação dirigida a processos eleitorais, organizações e indivíduos na gestão eleitoral entre 2016 – 2022.
O Relatório aponta que os casos de desinformação contra eleições (processos, organizações, indivíduos que apoiam a gestão dos processos) foram identificados em 92% dos 53 países do globo mapeados pela pesquisa do International Institute for Democracy and Electoral Assistance-IDEA. A evolução global dos casos entre 2016 e 2021 revela uma tendência ascendente, com ataques de desinformação atingindo o pico durante os anos eleitorais.
O maior número de casos de desinformação em todos os 53 países foi registrado em 2019. Os dados de 2022 ainda são parciais e cobrem apenas 17 países e já totalizam 71% do número de casos identificados em 2019. Isso pode indicar um número recorde de ataques para 2022.
Os casos de desinformação são divididos de forma relativamente igual entre todos os tipos de eleições periódicas nacionais. No entanto, as eleições legislativas emergiram como as mais visadas.
Os dados relativos aos referendos representam 4% do total de casos e são concernentes a seis países com um evento eleitoral desse tipo cada, no período pesquisado. Isso indica que, quando acontecem, os referendos são alvo de desinformação da mesma forma que os outros tipos de eleições.
A desinformação orquestrada visa processos e organizações eleitorais em paralelo. Processos específicos do ciclo eleitoral foram identificados em 95% dos casos documentados, a grande maioria corre paralelamente a atentados contra o órgão gestor eleitoral de cada país. No Brasil o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus Ministros foram alvos de todo o tipo de desinformação de modo intermitente durante os períodos eleitorais e com maior ênfase e intensidade em 2022.
De acordo com o Relatório do IDEA, técnicas de disfarce são usadas para esconder ataques contra indivíduos na gestão eleitoral. As estratégias usadas para espalhar conteúdo prejudicial no espaço de informações em torno das eleições variam, e os ataques não se concentram apenas em organizações e processos.
A pesquisa indica que indivíduos afiliados a partidos políticos em eleições foram visados em 15% dos casos relatados online. A maioria dos indivíduos objetos de desinformação são funcionários eleitorais em cargos de liderança nas Instituições eleitorais ou candidatos. No entanto, durante a pesquisa, entrevistas complementares indicaram que a desinformação, juntamente com outras práticas on-line prejudiciais dirigidas a funcionários eleitorais em cargos de alta visibilidade, aumentou significativamente.
As mulheres, por sua vez, experimentam uma camada adicional de desinformação, com base na condição de gênero. Em geral são retratadas e atacadas como incapazes de cumprir seus deveres e são vinculadas a estereótipos e sofrem misoginia por parte de uma sociedade machista. No entanto, esses ataques geralmente escapam da moderação de conteúdo e do escrutínio de verificação de fatos nas plataformas. Eles geralmente não são relatados devido a táticas de disfarce, como o uso de conteúdo eufemístico maligno, seu formato ou sua curta vida online. A disseminação desse conteúdo por meio de postagens efêmeras também foge da moderação das plataformas e dos filtros de checagem de fatos.
Embora o impacto imediato seja o descrédito dos funcionários como profissionais e indivíduos, na maioria dos casos mapeados, essas práticas malignas fazem parte de estratégias mais amplas para minar a credibilidade dos processos que dirigem e desafiar a independência funcional das instituições que representam e são pilares da democracia. Para além do impacto altamente nefasto em nível individual e institucional, o fenômeno tem graves implicações no panorama democrático dos países onde tem sido observado, com repercussões globais.
Representantes de organizações internacionais e missões de observação eleitoral também foram alvo de desinformação, embora em menor escala. Os ataques foram frequentemente iniciados ou amplificados por concorrentes eleitorais.
Uma tendência interessante e preocupante revelada pelo Relatório do IDEA é que as democracias são alvos preferenciais do mercado da desinformação que terminam gestando um fenômeno social coletivo. O Relatório aponta que os países democráticos experimentam o maior número de casos de desinformação em média. Uma possível explicação é que, em regimes autoritários, o governo exerce um controle estrito sobre a mídia e o fluxo de informações, dificultando que a desinformação ganhe força ou mesmo seja disseminada. Também é possível que casos de desinformação visando eleições em regimes autoritários sejam menos visíveis ou documentados devido a restrições à liberdade de imprensa e outras formas de censura.
Nesse ponto é válido ponderar que de 53 países analisados, o Brasil figura em segundo lugar no ranking dos países com maior número de desinformação eleitoral em circulação durante os pleitos situados no período analisado, perdendo tão somente para a Índia.
Para conhecer o IDEA acesse: https://www.idea.int/
Para conhecer o Relatório acesse: https://www.idea.int/our-work/what-we-do/elections/information-environment-around-elections