Publicado originalmente em Rede Amazoom por João Honorato. Para acessar, clique aqui.
Manaus – A artista Emerson Pontes, 30, que dá vida à entidade ‘Uýra Sodoma’, está em residência artística na Áustria, onde permanecerá por um mês. A artista fará parte de uma exposição e outras atividades artísticas, como performances, oficinas e rodas de conversa de foco decolonial na cidade austríaca de Innsbruk e na capital, Viena.
A arte decolonial é aquela que busca enfrentar ideias e estruturas sociais baseadas no colonialismo e na superioridade de um povo sobre outro e historicamente associadas a uma visão de mundo eurocêntrica. Emerson falou um pouco sobre como é importante para artistas indígenas ocuparem espaços historicamente relacionados ao colonialismo e desafiar essa visão.
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A Áustria teve ampla participação no Holocausto Nazista. Hoje, o movimento antiracista do país busca colocar em debate este fato e tensionar o que vinga no imaginário coletivo e nacional austríaco: “Por fim ao passado nazista do país”. Ainda hoje, é muito notório o conjunto de reflexos desta política racista no país, algo muito expresso no recebimento de imigrantes e demais políticas sobre diversidades étnicas que aqui habitam. O peso branco, de perspectiva eugênica, é bastante vivo“
Emerson Pontes, artista indígena
Paralelos de violência
A artista também relacionou a violência nazista na Europa, e a própria violência colonial e atual contra os povos indígenas.
“Sou indígena, de território brasileiro – lugar que tem um passado de extermínio dos povos originários muito maior, e menos divulgado, que o próprio Holocausto. Enquanto que na Alemanha, em torno de 6 milhões de Judeus foram assassinados, na América do Sul temos dados de extermínio de aproximadamente 70 milhões de indígenas. Nosso Holocausto foi ainda maior, mais brutal, e a política brasileira e mundial fez questão de esquecer. Pra piorar, atualmente estamos sob comando de um presidente que deixa explícitas as suas convicções políticas genocidas – muito inspiradas na política nazista. Saiu do território que piso agora, Áustria e Europa, a violência colonial que mata indígenas até hoje no Brasil. E vim para expor isso em tudo que fizer aqui”, afirmou.
A artista recebeu o convite das curadoras Ivana Marjanovic e Marissa Lobo, que é brasileira, para participar da exposição ‘Resurgences of Amazonia!’ junto à artista indígena Moara Tupinambá. Pontes falou um pouco sobre suas atividades na Europa.
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Essa exposição, de perspectiva decolonial, a “Resurgences of Amazonia!,” é a principal razão de eu estar aqui. Além dela, participarei de rodas de conversa sobre o impacto do colonialismo europeu sobre povos indígenas no Brasil e caminhos de cura. Também apresentarei performances sobre o tema nas cidades de Innsbruck e Viena na Áustria. Aproveitando a estada e temporada aqui, reapresentarei estas performances no Castello di Rivoli Museo d’Arte Contemporanea, na Itália” , , afirmou ela
Enfrentando a colônia
Emerson também falou sobre como enfrenta em seu trabalho o colonialismo e suas ideias, e como ocupar um espaço como a Europa é importante nisso.
“Ser artista é comunicar sobre mundos, para os muitos mundos. É refletir a época em que vivemos e, para mim, expor doenças coloniais propondo caminhos de cura. Venho à Áustria para, a partir deste território colonial e da linguagem da arte, contar não apenas expor as desgraças as quais nos colocaram, como indígenas, mas também reafirmar que as mesmas estamos atravessando. Que sabemos o que nos adoeceu e que estamos curando. Enquanto indígenas amazônicos e de outros territórios “brasileiros”, são visto historicamente na europa como exóticos, quero mostrarr nossa capacidade crítica, política e de generosidade – que deseja revisar os passos coloniais, para que tenhamos uma outra sociedade – de justiça e cura”, explicou.
As obras da artista serão redimensionadas num tamanho muito maior, e a maioria foi retirada do seu acervo de fotoperformances feitas em parceria com o fotógrafo Matheus Belém. Além disso, a artista pretende estreitar relações com mais artistas de outros locais e com outras instituições que possam expor seu trabalho. E para o retorno ao Brasil, ela já tem mais coisas em mente.
Quando retornar ao Brasil, seguirei com minhas participações em eventos virtuais que abordam questões raciais, ambientais e de diversidade sexual e de gênero. Além disso, ficarei em preparação para a montagem das obras que serão expostas na 34º Bienal de São Paulo, a ocorrer em setembro deste ano.