Publicado originalmente em Instituto Devir Educom. Para acessar, clique aqui.
A partir do jornalismo, a instituição trabalha a autoestima dos jovens e, por meio dela, a valorização da família, da escola e da comunidade
Uma memória compartilhada é muito mais do que uma experiência vivida ou assistida, é uma parte de nós conectada a do outro, tornando aquela experiência a sua história. Foi a partir desse olhar que nascia, há três anos, o Devir Educom. Apoiado nas interfaces da Educação e da Comunicação, o Instituto surgiu para manter o projeto Memórias em Rede, nascido do sonho de valorizar a história dos sujeitos, como patrimônio imaterial, a partir do afeto, da escuta e do respeito um pelo outro. Pois assim, entendem os gestores do Instituto, é possível pensar uma sociedade democrática, igualitária e justa.
Tudo começou na prática quando as escolas Mário de Almeida Alcântara e Avelino da Paz Vieira, localizadas em zonas de vulnerabilidade social da cidade de Santos, abriram as portas para atividades semanais educomunicativas com seus alunos do Ensino Fundamental II. A proposta era, a partir do jornalismo, trabalhar a autoestima dos jovens e, por meio dela, a valorização da família, da escola e da comunidade.
A prática jornalística e a busca pelo pertencimento
Depois de conhecer as técnicas jornalísticas, como pauta, edição, fotografia, redação, vídeo, produção, reportagem etc. e aplicá-las, os estudantes partiram para a execução de uma cartografia afetiva da escola. Quais os nomes dos lugares da escola? Quais os mais bacanas, bons de ficar, e os menos interessantes? Quais as pessoas da comunidade escolar nos entendem, nos aceitam, e quais as que mantém uma relação conflituosa conosco? Essas eram as indagações presentes nas pautas que eles utilizavam para sair em busca de respostas pelos espaços da escola.
Na verdade, as respostas eram para suas próprias interrogações que perduravam durante todo o tempo em que estavam ali (alguns, há mais de quatro anos, quando ingressaram no ensino). As buscas eram da compreensão de suas próprias identidades para entender a relação que mantinham com cada canto da escola. Era a busca pelo pertencimento.
Nessa busca, eles brincavam de ser repórteres, começando com suas manchetes pessoais: as manchetes da semana, um exercício de escuta, compartilhamento e envolvimento de todo o grupo. Ao final de 2019, eles já se conheciam de fato, sabiam dos problemas e das fragilidades uns dos outros, percebiam as diferenças e as semelhanças. E se solidarizavam entre si. O resultado: atenção maior à escola, valorização do professor e de sua disciplina e o sentido de pertencimento. Aquele também era seu lugar.
As referências
As atividades se fundamentavam em teorias freireanas, com relações horizontalizadas, respeitosas e contextualizadas às realidades de vida, e em referências de Célestin Freinet, que coloca o estudante como o centro, o protagonista do processo educativo (formal ou não formal); de Walter Benjamim, com a experiência adquirida pela história do outro; de Ecléa Bosi, com a valorização da memória individual e social; de Émile Durkheim, com os conceitos de representação social; de Ismar de Oliveira Soares e Adilson Citelli, com a união das interfaces da Educação e da Comunicação (a Educomunicação), entre outros.
Mas o Instituto Devir Educom iria ainda mais longe, teria outros projetos. E assim se deu. Surgiram as formações de professores, por meio de oficinas, cursos e palestras que tratam do jornalismo e da educação midiática; o Papo de Educomunicação, nos encontros educomunicativos online com convidados que trazem temas relacionados às interfaces da Educação e da Comunicação; e dos projetos Cinescola e (RE)Aproveitar.
Além disso, o Instituto firmou parcerias significativas, como a Associação de Professores de Escolas Públicas (APEP), Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), Museu da Pessoa e Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Santos, com oficinas educomunicativas aos professores da escola José Bonifácio.
Outros eventos do Instituto
“Participamos também de palestras e discussões sobre Educomunicação em universidades, escolas básicas de São Paulo, Carapicuíba e São Bernardo do Campo, além de nossa atuação em congressos de Comunicação e de Educação, como o da ABPEducom”, comenta satisfeita a professora e idealizadora do projeto Memórias em Rede, Andressa Luzirão, que também é presidente do Instituto Devir Educom.
Nessa comemoração de seus três anos de existência, completados neste início de junho, há muito o que se comemorar, mas também há a certeza de que grandes desafios estão por vir. Até aqui há muitos agradecimentos aos alunos, às coordenadoras, aos professores, à direção das escolas e à Secretaria de Educação (Seduc) de Santos.