Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Márcio Granez. Para acessar, clique aqui.
Entrevista do médico Ricardo Zimerman ao programa Agora com Lacombe, da Rede TV!, foi reproduzida no Instagram da deputada Carla Zambelli
O médico infectologista Ricardo Ariel Zimerman afirmou, no programa Agora com Lacombe, da Rede TV!, que as máscaras não devem ser utilizadas ao ar livre e que medicamentos como a nitazoxanida ajudam a combater a Covid-19. A entrevista foi reproduzida parcialmente no Instagram da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), da base do governo, e a mensagem foi enviada para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz. O vídeo pode ser conferido aqui.
O médico contesta incialmente que o uso de máscaras em locais públicos como parques e praças: “Em relação à máscara, eu acho que se tu tá correndo na praça, te exercitando ao ar livre, com exposição solar, tu não deve usar máscara”. A radiação solar mataria o vírus, conforme o infectologista.
A afirmação sobre o uso da máscara e o efeito da radiação solar não tem fundamento. Isso porque a transmissão do novo coronavírus pode se dar inclusive em espaços públicos, por meio de partículas aéreas que ficam suspensas no ar, e as máscaras são uma barreira física eficaz para deter o contágio. E também não há comprovação do efeito da radiação solar sobre o vírus. Esta matéria aqui mostra por que as máscaras são importantes e essa aqui explica a relação entre o vírus e a exposição solar.
Em seguida, Ricardo Zimerman defende a eficácia da nitazoxanida e da ivermectina, afirmando que elas mostram resultados satisfatórios contra a Covid-19 no tratamento precoce da doença. O raciocínio do médico é o seguinte: “Quanto maior a carga viral, maior é o risco de o paciente ser intubado e ir a óbito. Logo, você deve reduzir a carga viral”. O tratamento precoce ajudaria a reduzir a carga viral. Respondendo a um jornalista sobre o porque da “demonização” do tratamento precoce, ele afirma: “Falta de interesse comercial. Ivermectina não vai levar ninguém para Cancún no final do ano”.
A afirmação do médico sobre a eficácia da nitazoxanida não se sustenta nos fatos. Os estudos conduzidos até agora não conseguiram provar a eficácia dela e de outros medicamentos contra a Covid-19. Via de regra, os médicos que indicam o tratamento se baseiam apenas em sua experiência clínica, sem conduzir estudos rigorosos, necessários para a aprovação dos medicamentos.
Quando efetuados, os estudos em larga escala não têm demonstrado eficácia ou diferença significativa para os pacientes tratados com placebo, como você pode conferir nesta matéria aqui. Por isso a Organização Mundial da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa não reconhecem a eficácia desses medicamentos, nem a eficácia do chamado tratamento precoce para a Covid-19.
Histórico – Não é a primeira vez que as declarações do médico Ricardo Zimerman são utilizadas para disseminar a desinformação sobre a pandemia da Covid-19. Em 2020 ele publicou um vídeo divulgando informação falsa sobre o número de mortos no Reino Unido, e posteriormente apagou a mensagem e se desculpou, conforme você pode conferir nesta matéria. Nesta outra matéria aqui, do jornal O Estado de São Paulo, o médico é refutado em sua defesa dos medicamentos para tratamento precoce. Também é contestado por ter se apresentado em vídeo como representante da Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, braço americano da OMS.
Na CPI da Covid, em andamento no Congresso, Ricardo Zimerman é um dos solicitados a prestar esclarecimentos sobre sua defesa do tratamento precoce, conforme esta matéria da Folha de S.Paulo. A CPI procura levantar responsabilidades pela tragédia da pandemia no Brasil, e está em fase de oitiva de testemunhas.
O NUJOC Checagem já verificou várias mensagens falsas sobre a Covid-19 que foram disseminadas por médicos e profissionais da área da saúde, como você pode conferir aqui, aqui e aqui.