Aspectos pedagógicos no ensino coletivo de violão

Publicado originalmente em Jornal da UFRGS. Para acessar, clique aqui.

Artigo | Marco Aurélio de Carvalho Aurich e Renato Cardoso salientam a importância de um processo de aprendizagem que trabalhe os aspectos técnico-musicais de forma leve, respeitando as particularidades de cada aluno

*Por Marco Aurélio de Carvalho Aurich e Renato Cardoso
*Ilustração: Luíza Schütz/ Programa de Extensão Histórias e Práticas Artísticas, DAV-IA/UFRGS

O violão é um dos instrumentos musicais mais populares do mundo. Seja como uma ferramenta de aprendizado para atividades de lazer, seja como uma finalidade para realização de ambições artísticas e profissionais, muitas pessoas buscam estudar e praticar o instrumento e criar um contato inicial com a música a partir disso. Atualmente, as duas principais modalidades do ensino de violão são ‘individual ou coletiva’.

O ensino coletivo tem a característica de oferecer uma experiência de aprendizagem em grupos, e muitos projetos de educação musical procuram oportunizar essa modalidade aos estudantes, de forma a atender o maior número de pessoas possível, tornando mais acessível também o acesso à educação musical. O ensino coletivo de um instrumento musical é também uma oportunidade de desenvolver o senso de coletividade dos estudantes. Sobre isso, também é importante considerar a troca de informações entre eles durante as atividades, sobre os exercícios e as músicas propostas pelo(a) professor(a). O momento também favorece a criação de vínculos entre os(as) estudantes e também do professor com eles, com momentos de amenidades e descontração entre as atividades de aula.

Esses aspectos pedagógicos e musicais foram estudados no trabalho de conclusão em Licenciatura em Música “Ensino coletivo de violão: atuação de docentes em um projeto de educação musical de Porto Alegre – RS, 2023″, apresentado aqui como um breve relato conjunto do pesquisador e seu orientador. A partir da observação de aulas de uma professora e de um professor de violão em um projeto de educação musical de Porto Alegre, foi possível descrever atividades de sala de aula e a interação entre estudantes e professores.

Além disso, também foi observado o ambiente pré e pós-aulas, considerando que nesses momentos acontecem muitas trocas importantes também com os familiares. Tal interação é um fator que influencia diretamente na energia dos estudantes durante a aula, o que pode ser decisivo para o seu andamento. 

O trabalho de observar, registrar e entrevistar docentes sobre como eles reconhecem e desenvolvem suas estratégias em sala de aula apresenta-se como uma forma bastante relevante de documentar e descrever processos pedagógicos. Isso oferece uma oportunidade de desenvolvimento do senso crítico do pesquisador, que também atua como um interlocutor para o grande público, relatando as ações desenvolvidas pelos docentes em diálogo com a literatura.

Entre outras questões relacionadas à educação musical, o trabalho também trouxe um pouco da visão dos professores sobre princípios que consideram importantes para o ensino de violão e de música. Ambos falam sobre a necessidade de enxergar a aula, antes de tudo, como uma experiência de bem-estar e diversão para os(as) estudantes. A motivação por aprender um instrumento, na maioria das vezes, se dá nesse sentido. Mesmo que alguns, ao longo do desenvolvimento com a música, possam se interessar em aperfeiçoar sua técnica e desenvolver uma relação mais íntima com o instrumento, ainda assim, um contato inicial que valide a experiência e o bem-estar, antes de validar os resultados práticos, é de extrema importância para o prosseguimento dos estudos, segundo a visão dos professores entrevistados.

Além disso, ambos também citam a importância de reconhecer as qualidades de cada estudante durante o processo de aprendizagem. Adicionalmente, informam a necessidade de os docentes valorizarem cada avanço dos estudantes em todas as aulas vivenciadas. Evitar o uso de palavras como “errado”, substituindo por termos que procurem indicar “outras possibilidades”, considerando também a necessidade de um aperfeiçoamento técnico mínimo, pode ser importante para manter a autoestima dos estudantes. É também uma maneira de não os afastar das práticas musicais como um todo.

Faz-se necessário, portanto, um processo de aprendizagem em que os aspectos técnico-musicais sejam trabalhados de forma leve, regulando a quantidade de exercícios que possam levar ao desinteresse dos estudantes pela prática do instrumento. Aqui a experiência do professor também deve indicar os limites de cada um(a) em sala de aula, procurando estratégias para qualificar cada processo e respeitar o tempo de aprendizado de cada um.

A partir de observações das aulas, também pôde-se perceber esses aspectos trazidos pelos professores. Foi possível identificar como cada estudante possui um momento particular de aprendizado com o instrumento. Enquanto alguns gostam de mostrar suas habilidades, outros ficam mais tímidos ou reservados, tocando em volume mais baixo, procurando não serem tão notados. Alguns interagem mais entre si, e outros acabam também puxando bastante a atenção de colegas, com uma energia mais proativa. O andamento da aula também é afetado por essas questões que se fazem presentes em todos os contextos educacionais. Alguns momentos podem ser mais desafiadores aos docentes, que devem buscar maneiras de envolver os estudantes com as atividades de forma que todos se sintam parte importante do momento musical. 

A respeito da pedagogia em educação musical, percebe-se a importância de uma educação voltada para questões de valorização dos processos individuais de cada estudante com o instrumento e os materiais musicais estudados. O professor de música deve estar atento a questões envolvendo a autoestima e o bem-estar dos seus estudantes em sala de aula. Assim, tocar o violão coletivamente, em roda, pode ser um momento prazeroso e de desenvolvimento pessoal e musical para estudantes, como também para o docente.


Marco Aurélio de Carvalho Aurich é licenciado em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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