É falso que vacina da Covid contém medicamentos abortivos

Publicado originalmente em Agência Lupa por Ítalo Rômany. Para acessar, clique aqui.

Circula nas redes sociais um post afirmando que o empresário Bill Gates foi advertido por cientistas japoneses após a descoberta de medicamentos abortivos em vacinas de RNA mensageiro contra a Covid-19. É falso.

Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:

Japão alerta Bill Gates que seus “dias estão contados” após medicamentos abortivos serem encontrados em vacinas  […] Cientistas japoneses agora estão se posicionando , pedindo que promotores internacionais abram um caso de crimes contra a humanidade contra Gates . Entre eles, especialistas de renome mundial como o Dr. Fukushima estão dando o alarme , revelando descobertas chocantes de que algumas vacinas contêm medicamentos abortivos projetados para despovoamento

– Legenda de post que circula no WhatsApp

Falso

Não há qualquer evidência de que o empresário Bill Gates esteja financiando projetos de vacinas contra a Covid-19 que contenham ‘medicamentos abortivos’ em sua composição. Além disso, o imunizante é seguro para gestantes e não provoca infertilidade, como alega a publicação enganosa.

Nos sites oficiais do governo do Japão e do Ministério da Saúde do país não há qualquer menção sobre medicamentos abortivos na fórmula da vacina da Covid-19. Tampouco há qualquer publicação na imprensa sobre cientistas japoneses terem alertado Bill Gates sobre a presença de ‘medicamentos abortivos’ em vacinas de RNA mensageiro.

No site do primeiro-ministro do país estão em destaque quadros informativos que ressaltam que as fórmulas mostraram efeitos substanciais para prevenir formas graves da doença e que as vacinas são “altamente eficazes na prevenção do aparecimento de sintomas, mesmo em idosos e pessoas com problemas de saúde subjacentes, como hipertensão ou diabetes”. 

No Brasil, as vacinas atualmente aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para proteger adultos e crianças de formas graves da Covid-19 foram desenvolvidas a partir de tecnologias diferentes, como a de RNA mensageiro (Pfizer e Spikevax) e a de vetor viral (Janssen, AstraZeneca), por exemplo. De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a vacinação contra Covid-19 de gestantes e lactantes, as fórmulas disponíveis são seguras e recomendadas para mulheres grávidas. “Dados de estudos realizados em animais e dados de vigilância pós-introdução não mostraram efeitos prejudiciais na gravidez”, diz o documento. O Ministério da Saúde também afirma que a vacinação contra a Covid-19 durante a gravidez e o puerpério “tem sido recomendada amplamente”.

Além disso, há diversos estudos que mostram que não há relação entre a vacina da Covid-19 com aumento no número de abortos espontâneos. Um estudo retrospectivo e transversal publicado em janeiro de 2023 na revista Cureus, realizado em três hospitais privados em Jeddah, Arábia Saudita, investigou dados de registros médicos e entrevistas telefônicas com gestantes internadas por aborto. O estudo concluiu que a vacinação contra a Covid-19 não apresentou nenhuma associação significativa com o risco de aborto.

Um outro artigo publicado na revista Jama Network Open, em maio de 2023, mostrou que não houve associação entre o recebimento da terceira dose da vacina de RNA mensageiro e o aborto espontâneo em uma janela de 28 dias e 42 dias. Trata-se de um estudo observacional incluindo 112.718 gestantes entre 6 e 19 semanas. Outro estudo publicado em fevereiro de 2023 na Oxford Academic tampouco encontrou associação entre aumento de casos de aborto após a imunização. 

Especificamente sobre a alegação de que vacinas baseadas em RNA mensageiro causam infertilidade, um estudo da Universidade de Miami com homens de 18 a 50 anos que receberam duas doses do imunizante refutou essa associação. Publicado em junho de 2021 na revista científica Jama, constatou-se que os pacientes vacinados não tiveram alteração na contagem de espermatozoides. Um outro estudo publicado em setembro de 2023 na Annals of Medicine também concluiu que receber a vacina contra a Covid-19 não afeta a fertilidade de mulheres. 


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