Psicodelia Nordestina contemporânea: Ocorre Cultura com Landeni Lamblowloon

Publicado originalmente em Ocorre Diário por Jorge André. Para acessar, clique aqui.

O título pode soar pretensioso, mas é representativo: o experimentalismo, as letras também (mas não só) poéticas, as abstrações, a fantasia. Esses elementos, comuns no movimento de Psicodelia Nordestina dos anos 1970, ocorrem no som da banda sobralense Landeni Lamblowloon, fundada em 2017. Com os integrantes Lucas Vasconcelos (vocal e sintetizadores), Claudemir Estevam (baixo e voz), Wanderson Rodrigues (bateria e voz) e Neto Melo (guitarra), em março de 2024 lançou seu primeiro álbum, “Skalleoppi Situ Orbis”.

O nome da banda foi escrito para fazer parte de uma peça sobre um personagem (Landeni Lamblowloon) que morreu e reencarnou no corpo de Lucas Vasconcelos (vocal e synths), trazendo assim uma luta de dois personagens em um só, lutando pelo controle mental da banda. “O nome do nosso primeiro álbum surgiu da ideia de acreditar que o universo estava sussurrando em nossos ouvidos e nos guiando até chegarmos a algo que pudesse explicar o nosso disco de forma mais pura”, diz Lucas. 

Ele e Wanderson contam que durante uma caminhada tiveram a certeza de que ouviram a palavra “Skalleoppi” vindo de algum lugar enquanto pensavam no nome do álbum. “Ela não pode ser traduzida em qualquer palavra dessa realidade. As letras do projeto são em sua maioria enigmáticas, sentimentais, confusas e aleatórias. É assim que nosso cérebro funciona”, eles dizem. Já “Situ Orbis” surgiu de um livro chamado “Esmeraldo Situ Orbis” de Duarte Pacheco Pereira, que o baixista Claudemir estava lendo na época.

Lucas continua falando sobre os processos criativos da banda. “Nós nos conectamos com o caos e o harmonizamos com nossa musicalidade. Escrever esse disco foi muito prazeroso; um momento em que estávamos em uma grande imersão, pudemos experimentar diferentes métodos de gravação. Nós sentimos que estamos prontos para explorar novos universos”, afirma.

Na descrição da banda no Spotify, eles falam em catarse e incorporação. A princípio mais implícito, atualmente eles trazem esses elementos de forma mais demarcada nas apresentações que fazem. “As letras, a música e os sons que fazemos agora vêm de outra direção, com novas vertentes de diferentes épocas. Assim, nós assumiremos uma performance mais pulsante, viva e de sonoridade mais suingada”, diz a banda.

POR DENTRO DO UNIVERSO MÍSTICO

A estética simbolista é muito forte nas músicas da banda (como é possível conferir logo abaixo). Sobre as influências literárias, o ecletismo caracteriza a Landeni. “Cada membro da banda segue um caminho literário diferente, ainda que um tanto semelhante. O Wanderson é leitor assíduo do horror cósmico de H. P. Lovecraft, o Lucas aprecia a psique conturbada de autores como Charles Baudelaire. E o Claudemir originou grande parte do conceito do álbum do livro ‘Esmeraldo Situ Orbis’”, segundo Neto Melo.

Capa do EP “Lados”. Arte: Talita Versoza

Na música, há uma grande mistura de influência: desde o math rock com a essência melancólica de bandas como Radiohead, passeando pelo experimentalismo de The Mars Volta. Mas também há raízes na música brasileira e no samba. Por fim, há inspiração nos álbuns solo de John Frusciante, guitarrista da banda Red Hot Chilli Peppers. Toda essa mistura é o que forma a Landeni Lamblowloon.

O VIRTUAL AO LADO DA PSICODELIA

Nesses tempos em que as métricas digitais contam muito para aferir o êxito de artistas, a Landeni também fala sobre a relação deles com as redes sociais. “O mundo digital sempre nos pareceu um iceberg assustador e escuro. Mas graças ao trabalho de Cauane Ferreira (social media e videomaker), conseguimos expandir o nosso som para novos públicos. Aprendemos a fazer um marketing orgânico e divertido. Ela conhece o nosso estilo e está sempre nos ajudando com nossas ideias malucas. Tem sido uma parceria significativa para o crescimento da banda nas mídias sociais”, diz Landeni.

Integrantes da banda Landeni Lamblowloon. Foto: Cauane Ferreira (@wonderwallq)

Eles também tratam a respeito do design da banda: “Sobre nossas artes das músicas, álbum e logotipo, a Talyta Versoza (Designer) conseguiu transmitir perfeitamente o nosso conceito, nós conseguimos ter uma identidade visual única. Estamos chegando perto de mostrar como é exatamente o Landeni Lamblowloon para o mundo digital”.

SENTE A VIBE

Cartaz do Festival “Vibrações Noturnas”. Arte: Talita Versoza

Sobre o que vem por aí, Landeni fala do festival Vibrações Noturnas, que acontece em Sobral dia 28 de setembro. A produção musical colaborativa tem sido uma tônica nos tempos atuais, e com a banda não tem sido diferente. “É desafiador, mas ao mesmo tempo emocionante produzir o nosso primeiro evento. ‘Vibrações Noturnas’ é a primeira edição de um festival independente, com o intuito de contribuir com a propagação de arte e cultura por meio da música”. 

Em parceria com a banda M.E.C.A, também dividirão o palco com futuras colaborações de artistas como Dedezaum e Enejaru, da cena sobralense. “Estamos bastante empolgados para esse show, que acontecerá dia 28/09, no 4 Portas (Nambu). Nas próximas edições de Vibrações Noturnas, pretendemos convidar artistas desconhecidos, abrindo portas para coisas novas, sem medo de fazer algo diferente e ousado”.

Logomarca da Landeni Lamblowloon Arte: Talita Versoza

Eles finalizam dizendo sobre o que dá pra esperar da Landeni no Vibrações Noturnas. “Estamos muito animados para compartilhar o que consideramos ser o nosso melhor trabalho composicional até hoje, bem diferente do nosso primeiro álbum. Estamos expandindo para um ambiente completamente desconhecido, sem medo de trazer eletrônico, samba rock, blues e claro, muita psicodelia! Nossa intenção é estar sempre nos renovando e alimentando nossa cadeia criativa. Até o futuro!”.

Confira o primeiro álbum da Landeni Lamblowloon, “Skalleoppi Situ Orbis”:

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