Metade dos brasileiros evita falar de política em grupos nos apps de mensagem

Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.

A tendência não é atual, mas mais da metade dos brasileiros ainda evita falar sobre política em grupos em aplicativos de mensageria como o WhatsApp para fugir de brigas e 52% se policiam cada dia mais sobre o que falam nesses espaços – em 2022 esse número chegou a 58%. Os dados do comportamento dos usuários são da pesquisa “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagem: hábitos e percepções”, divulgada nesta terça-feira (3) pelo InternetLab e Rede Conhecimento Social. 

“O histórico demonstra que há uma preocupação com a manutenção das relações e busca por evitar conflitos que possam gerar desgaste para cerca de metade da população. Quanto mais velhas, as pessoas possuem uma tendência a se policiar cada dia mais”, determina a pesquisa.

Outro dado que mostra a fuga dos conflitos é o número de pessoas que evitam compartilhar mensagens que possam atacar os valores de outras pessoas, essa taxa é de 66%, mas já chegou a 71% em 2022. Isso se dá, de acordo com a pesquisa, também pela insegurança e receio de falar sobre política nos grupos: 55% dos entrevistados disseram sentir medo de dar sua opinião sobre política porque o ambiente está muito agressivo e 59% não costumam repassar notícias interessantes sobre assuntos do momento na política.

“Não há diferença nesse comportamento entre respondentes que se posicionam à direita, ao centro e à esquerda. Ao mesmo tempo, há variações em relação ao gênero: mulheres têm mais medo que homens, independente do posicionamento político. Também se nota que o receio é maior entre classes sociais mais elevadas e entre pessoas brancas”, acrescenta o relatório.

De forma geral, os comportamentos refletem o dado de que apenas 15% das pessoas se sentem seguras para falar sobre política no WhatsApp e 17% no Telegram, esses números eram maiores nas edições anteriores, mostrando um aumento da insegurança. Nesse sentido, 35% acreditam que é melhor falar sobre política no privado do que em grupos e 25% só falam sobre política apenas em grupos com pessoas que pensam igual.

Dados do relatório

A pesquisa também mapeia o comportamento de pessoas que sentem a necessidade de expor suas ideias, seja reagindo a algo considerado absurdo ou compartilhando conteúdos que possam ser ofensivos. 13% dos entrevistados afirmam que, quando alguém manda um conteúdo absurdo sobre política num grupo, acaba reagindo mesmo que possa causar briga e 12% disseram que, quando acreditam em uma ideia, compartilham mesmo que isso possa parecer ofensivo. 

“Cabe ressaltar que o compartilhamento de conteúdo por afinidade de ideia, independentemente de ser ofensivo, é mais comum entre homens e pessoas que se declaram de direita”, coloca o relatório a partir dos recortes de posicionamento político e gênero.

Eleições 2024

Os entrevistados também responderam sobre como os aplicativos de mensagem também estão sendo usados nas eleições deste ano. Os entrevistadores questionaram se os usuários participaram de algum grupo para divulgação de campanhas ou discussão nos primeiros dois meses do ano – quando a pesquisa foi realizada – e 77% disseram que não participaram de nenhum grupo com essas finalidades no WhatsApp e 71% no Telegram. 

Os dados também foram analisados a partir de recortes de classe e raça e, nas duas plataformas, o perfil que se destaca nos grupos de discussão política é de pessoas da classe A (21% no WhatsApp e 28% no Telegram). Já no Telegram de forma específica pessoas brancas (19%) discutem mais sobre as eleições do que negras (12%).

Verificando a informação

A pesquisa conduzida pelo InternetLab e a Rede Conhecimento Social também analisa como os entrevistados depositam confiança nos conteúdos recebidos e compartilham essas informações. Assim como elencado na última edição, a confiança no emissor continua sendo determinante para validar informação que chega pelos aplicativos de mensagem: 42% diz que, quando confia muito na pessoa que me mandou uma notícia, costuma acreditar que é verdade.

Sobre checagem, 36% dos entrevistados admitiu já ter repassado notícia que achava interessante ou importante sem checar a fonte. No entanto, esse número está em queda, ele chegou a 42% em 2021. “Há uma tendência de queda desse comportamento ao longo dos anos que deve ser monitorada para compreender se a queda é relativa à checagem de fonte ou ao repasse de informação. É mais comum pessoas de classe A e de posicionamento da direita admitirem que não checaram a fonte”, complementou o relatório.

Metodologia

A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas online nas 5 regiões do Brasil entre o período de 15 de janeiro a 02 de fevereiro de 2024. Ao todo foram 3.183 entrevistas com pessoas com 16 anos ou mais, com acesso à internet e que usam WhatsApp e/ou Telegram.

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