É falso que Maduro ordenou morte de manifestantes em vídeo; áudio foi manipulado

Publicado originalmente em Agência Lupa por João Pedro Capobianco. Para acessar, clique aqui.

Circula nas redes sociais um vídeo que mostra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conversando com militares. No áudio, ele ordena à Guarda Nacional Bolivariana, que integra as Forças Armadas venezuelanas, a morte de manifestantes. Isso é reforçado pela legenda que acompanha a publicação. É falso.

Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​

“Maduro ordenando a sua guarda nacional para que mate os manifestantes”

– Texto que acompanha vídeo viral com áudio manipulado

Falso

O áudio do vídeo que circula pelas redes sociais foi manipulado. Embora a fala do soldado seja verdadeira, o discurso de Maduro é falso. Na versão original do registro, publicada no perfil oficial do presidente da Venezuela no X em 31 de julho de 2024, ele não ordena que os manifestantes sejam assassinados em nenhum momento. Maduro apenas critica os protestos e diz que já são “mais de 1.200 criminosos presos”.

No vídeo original, um dos oficiais informa o presidente venezuelano sobre a prisão de dois jovens que carregavam pistolas. O líder então ordena que as prisões sejam mantidas. Na sequência do diálogo com o militar, Maduro acusa manifestantes de terem queimado um hospital: “Isto é protesto ou luta política?”, ele pergunta. O oficial diz que a ação é um ato terrorista, e Maduro concorda.

Ao fazer referência ao “hospital de coche” na gravação original, Maduro aponta para um edifício. Pesquisa realizada pelo Google Maps revela se tratar do Hospital Periférico Dr. Miguel Ángel Rangel, conhecido como “hospital de coche”. Este vídeo mostra a Avenida Intercomunal del Valle, onde o hospital se localiza; é possível perceber que se trata do mesmo local onde Nicolás Maduro falava no vídeo.

Ainda sobre a atuação dos manifestantes, Maduro os acusa de terem recebido treinamento “no Texas, na Colômbia, no Peru e no Chile”. Ao final do trecho, tanto os soldados quanto Maduro gritam “viva a Guarda Nacional Bolivariana”. Em nenhum momento do vídeo, porém, há ordem para que pessoas sejam mortas.

Veja, abaixo, a transcrição completa do diálogo presente no vídeo original:

Soldado: Acabo de adotar um procedimento, agora mesmo, com dois garotos que vinham armados. [trecho inaudível] Peço-lhe, por favor, porque não têm justificativa. Acabaram de pagar cinquenta dólares. O procedimento começou, para os dois garotos.

Maduro: Quem os pagou?

Solado: Não tenho mais informações. Eles me disseram que você estava vindo. Ele tem a informação. Protege o local.

Maduro: Não o soltem, não o soltem. 

Soldado: Não, estou com ele aí. Eles vão sair para fazer um procedimento.

Maduro: Esta área anda muito violenta. Essa área aqui. Então, estou muito feliz que vocês estejam protegendo as pessoas. Eles são criminosos. Temos mais de 1.200 criminosos capturados. Treinados no Texas, Colômbia, Peru e Chile. ‘Eles’ os treinaram para ganhar tempo para que viessem atacar, queimar. Tentaram queimar este ‘hospital de coche’, a comunidade o salvou. Isso é protesto ou luta política? Queimar hospitais?

Soldado: Isso é terrorismo, meu amigo, é ódio.

Maduro: Correto. E fascismo. Essas pessoas estão preparadas para governar este país?

Soldados: Não, senhor. 

Maduro: Joelho no chão. Estou em combate. E estou contando com você.

Soldado: Conte conosco. 

[trecho inaudível]

Maduro: Viva a Guarda Nacional Bolivariana.

Soldados: Viva.

As eleições venezuelanas, que aconteceram em 28 de julho, têm sido marcadas por questionamentos quanto à lisura do processo eleitoral. Na esteira dos acontecimentos, muitos conteúdos enganosos têm circulado pelas redes. Confira o que a Lupa já checou sobre a situação política na Venezuela.

Conteúdo semelhante foi checado pelo portal espanhol Maldita e pelo estadunidense Univision. No Brasil, o conteúdo também foi verificado por Boatos.org.

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