Equilibrando-se na tempestade: resiliência, resistência, adaptação

Publicado originalmente em Jornal da UFRGS. Para acessar, clique aqui.

Artigo | Demetrio Luis Guadagnin, professor do Departamento de Ecologia, busca definir alguns conceitos-chave em busca de clareza nas ações que serão tomadas após a catástrofe

*Por Demetrio Luis Guadagnin
*Ilustração: Mariana Lemmertz/ Programa de Extensão Histórias e Práticas Artísticas, DAV-IA/UFRGS

Resiliência e catástrofe têm sido duas palavras muito repetidas. Genericamente, resiliência refere-se à capacidade de uma sociedade ou ecossistema de suportar fenômenos extremos sociais, políticos ou ambientais sem grandes consequências, mantendo-se organizada e funcional. Em Ecologia, o conceito que abrange essa ideia é ESTABILIDADE, que envolve sete aspectos diferentes, alguns dos quais serão explorados aqui.

Especificamente, o que significam, em Ecologia, resiliência, catástrofe e termos relacionados? Conceitos claros ajudam a estabelecer objetivos e metas. Esses conceitos variam entre áreas de conhecimento e autores. Aqui seguimos as definições de Garry Harisson.

Sistemas ecológicos operam dentro de limites de variação suportáveis que, quando ultrapassados, resultam em mudanças irreversíveis de estado.

Secas, incêndios, ondas de calor ou ressacas podem variar em intensidade, duração, frequência e previsibilidade. Se a magnitude induzir uma mudança de estado, é uma catástrofe. Uma avalanche pode ser um evento único ou um processo erosivo prolongado, resultando na quebra de algumas árvores ou na remoção completa do solo. No primeiro caso, a floresta provavelmente se recuperará; no último, um novo processo de colonização começará, resultando em uma vegetação diferente. O ecossistema trocou de estado – foi desorganizado e substituído.

PERSISTÊNCIA é a capacidade do ecossistema de continuar existindo, apesar dos estresses. RESISTÊNCIA é uma das estratégias adaptativas possíveis – a capacidade de manter-se estável apesar dos estresses ambientais. Um bairro resistente à cheia não inunda, e as pessoas seguem suas vidas normalmente.

RESILIÊNCIA é outra possibilidade – a capacidade de rapidamente voltar ao estado normal após uma mudança causada por estresse. Um bairro resiliente se inunda, mas rapidamente se recupera. Diques e bombas aumentam a resistência às enchentes, enquanto palafitas e casas flutuantes aumentam a resiliência.

Em geral, resistência e resiliência são estratégias alternativas, exigindo soluções diferentes. Ambas remetem à ideia de estabilidade, de manter-se na condição presente. Ecossistemas podem ser resistentes a alguns fenômenos, resilientes a outros – reagem a estresses previsíveis ou recorrentes e persistem.

ADAPTAÇÃO refere-se ao processo de ajuste a um ambiente cambiante. Ecossistemas podem ser vulneráveis a alguns estresses, especialmente a fenômenos inéditos, como a emergência climática. Se os limites toleráveis forem ultrapassados, um outro ecossistema evoluirá no seu lugar. Estamos pensando o mesmo sobre a melhor ocupação de lugares que sejam muito sujeitos a inundações.

O trunfo humano é a sua capacidade de agir preventivamente, de nos anteciparmos aos diversos fenômenos previstos pela emergência climática e nos adaptarmos às condições inéditas que virão. Além de resistência e resiliência – condições para a estabilidade –, a persistência social vai precisar também de uma boa dose de adaptação.


Demetrio Luis Guadagnin é professor do Departamento de Ecologia da UFRGS.

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