Publicado originalmente em Agência Lupa por Maiquel Rosauro. Para acessar, clique aqui.
Post que circula nas redes sociais traz uma série de alegações que apontam para uma suposta crise econômica no Brasil, incluindo falta de dinheiro para pagar o funcionalismo público e a saída de montadoras de veículos do país. É falso.
Por meio do ?projeto de verificação de notícias?, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:
Caos anunciado. De acordo com o próprio Haddad o país a partir de junho não terá dinheiro nem para pagar o funcionalismo público.”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
Não há nenhum registro de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha feito tal declaração. Uma busca na internet, específica em veículos de imprensa, não revelou nenhum conteúdo com a suposta fala. Em nota enviada à Lupa, o Ministério da Economia também desmentiu a publicação.
“O governo somente nesses últimos meses já gastou mais de 1 trilhão”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
O relatório de Estatísticas Fiscais publicado pelo Banco Central, em 7 de março deste ano, aponta que o acumulado do déficit nominal do setor público consolidado (diferença entre despesas e receitas totais, incluindo também os gastos com juros sobre a dívida pública) chegou a R$ 991,9 bilhões (9,06% do PIB) em 2023 (página 2). Ou seja, não ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão “nesses últimos meses”. Além disso, o setor público consolidado inclui União, Estados, municípios e estatais – logo, esse valor não é um resultado apenas das contas do governo federal.
Os índices de inflação informados pelo IBGE são falsos. É fácil constatar nas feiras livres e supermercados a alta de preços astronômicos”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
Verificar o aumento de alguns itens em supermercados ou feiras não comprova que os estudos desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são falsos. É preciso levar em conta que existe a inflação oficial, calculada para todo o país, e a inflação pessoal, que os brasileiros sentem no bolso e que pode variar em cada família.
Entre as principais pesquisas econômicas desenvolvidas pelo IBGE estão o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como índice oficial de inflação do Brasil pelo governo federal, que aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos; e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que verifica a variação do custo de vida médio apenas de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos.
Para fazer o estudo, o IBGE produz um levantamento mensal, em 13 áreas urbanas do país, em cerca de 430 mil preços em 30 mil locais. Os dados são comparados com o mês anterior, resultando num único valor que reflete a variação geral de preços ao consumidor no período.
De acordo como o IBGE, os produtos e serviços que uma pessoa consome regularmente podem ser diferentes da cesta média da população brasileira. Com isso, o índice pessoal de inflação pode ser maior ou menor do que o IPCA. “Por exemplo, uma família que não consome carne vermelha e não tem filhos em idade escolar terá, com certeza, um índice de inflação pessoal diferente do oficial, cujo cálculo coloca peso considerável na variação do preço da carne e da mensalidade escolar”, explica o instituto.
O IBGE também chama atenção para o poder de compra do brasileiro, que pode sofrer uma redução caso o salário recebido tenha uma variação menor do que o IPCA de um ano para o outro. Da mesma forma, o poder de compra pode aumentar se o salário recebido tiver um aumento acima do IPCA.
O PIB está caindo desde o segundo trimestre de 2023.
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
O Produto Interno Bruto (PIB) não está em queda desde o segundo trimestre, mas permanece estagnado desde o fim do primeiro semestre. Em 2023, o PIB fechou o ano com alta de 2,9%.
No terceiro trimestre (julho a setembro), o PIB avançou 0,1% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, representando uma desaceleração em relação ao crescimento observado nos dois períodos anteriores, quando o PIB avançou 1,4% e 1%, respectivamente. No quarto trimestre (outubro a dezembro), o PIB ficou estável (0%) em relação ao anterior.
Fuga de capitais (…)”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Verdadeiro
O investimento estrangeiro no Brasil apresentou queda em 2023. Conforme estudo publicado pelo Banco Central (página 3), os Investimentos Diretos no País (IDP) totalizaram US$ 62 bilhões (2,85% do PIB) no ano passado, queda de US$ 12,6 bilhões em relação a 2022, quando a entrada de dólar para investimento no país foi de US$ 74,6 bilhões (3,82% do PIB).
…e também [fuga] de poupanças”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falta contexto
Em 2023, a caderneta de poupança captou R$ 3,82 trilhões, enquanto o total de saques foi de R$ 3,91 trilhões. Na prática, os brasileiros retiraram cerca de R$ 87,8 bilhões da poupança no ano passado. Contudo, não se trata de um movimento isolado. Foi o terceiro ano consecutivo em que o volume total de saques da poupança foi maior do que a soma dos depósitos.
A Volkswagen anunciou a saída do Brasil no final desse ano. A GM pensa em fazer a mesma coisa.”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
Volkswagen e a General Motors não anunciaram que estão de saída do Brasil. Ao contrário, ambas as empresas anunciaram investimentos bilionários no país neste início de ano.
Em fevereiro, a Volks anunciou R$ 9 bilhões em investimentos no país até 2028. Em novembro de 2021, a empresa já havia anunciado que investiria R$ 7 bilhões na América Latina entre 2022 e 2026. A Lupa entrou em contato com a marca alemã, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
A GM, em nota enviada à Lupa, afirmou que a alegação sobre a saída do Brasil não procede. Em janeiro, a empresa norte-americana anunciou R$ 7 bilhões em investimentos no país entre os anos de 2024 e 2028.