Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Daniela Machado. Para acessar, clique aqui.
* Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta
Nunca antes na história da humanidade informações foram produzidas, consumidas e compartilhadas em ritmo tão frenético como agora. Em 2023, a cada minuto, cerca de 41,6 milhões de mensagens foram enviadas pelo WhatsApp, 4 milhões de posts foram curtidos no Facebook, 6,3 milhões de buscas foram feitas no Google e 360 mil postagens surgiram no X (antigo Twitter), entre tantas outras atividades que vêm agigantando o ambiente informacional em que estamos mergulhados.
Os números fazem parte de um famoso infográfico produzido anualmente pela ferramenta de análise Domo, batizado de “Data Never Sleeps” (os dados nunca dormem, na tradução para o português). Mais do que escancarem a superabundância de conteúdos a que estamos expostos a todo instante, tais indicadores são um alerta sobre a necessidade de avaliar criteriosamente tantas informações e estabelecer filtros de confiabilidade.
Profissionalmente, agências de checagem de informações fazem esse trabalho. É um ramo do jornalismo que cresceu nos últimos anos, principalmente ao analisar e classificar dados divulgados por figuras públicas, como autoridades políticas. Com um volume tão alto de conteúdos disponíveis, no entanto, a tarefa de verificar a integridade da informação não pode ficar restrita a esses agentes — todos nós precisamos assumir parte da responsabilidade e praticar no dia a dia uma “leitura” mais crítica de mensagens, dados, vídeos e áudios.
Na próxima terça-feira (2 de abril) será celebrada mais uma edição do Dia Internacional da Checagem de Fatos, uma iniciativa da International Fact-Checking Network (IFCN) com organizações de checagem de vários lugares do mundo. A data é um convite — e um lembrete — para que todos os cidadãos e cidadãs zelem pela integridade das informações que recebem e compartilham. O grupo promove a ideia de que jogar luz sobre os fatos não deve ser responsabilidade exclusiva de jornalistas, “mas sim um esforço coletivo que envolve participação pública e todos os setores da sociedade” para garantir um ecossistema informacional saudável e baseado em fatos.
Frente ao volume inédito de conteúdos disponíveis, precisamos assumir o papel de curadores de nossa própria experiência no universo da informação. Deixamos para trás a era da comunicação em que poucos emissores, como jornais e redes de rádio e TV, exerciam quase exclusivamente o poder de selecionar e publicar o que acontecia. Hoje, essa capacidade está potencialmente diluída entre todos aqueles com acesso à internet (no Brasil, o número de domicílios nessa condição alcançou 84%, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2023).
Se as informações são produzidas por uma infinidade de autores, é necessário considerar também que há uma infinidade de intenções: relatar um fato, desinformar, convencer sobre uma ideia, vender um produto, entreter etc. Algumas dicas práticas podem estimular o consumo mais crítico de tanto conteúdo:
– Desenvolva o hábito de interrogar a informação, perguntando qual é a sua origem (ou fonte) e o propósito que se espera alcançar com aquela mensagem. Avaliar quem se beneficia e quem é prejudicado pelo conteúdo também é um caminho interessante para dar contexto às mensagens;
– Se a mensagem provocar uma reação exagerada (raiva diante do ataque a alguém conhecido ou euforia por supostamente ganhar um prêmio, por exemplo), pare para refletir antes de repassar ou interagir com aquele conteúdo. Ativar nossas emoções é justamente uma das estratégias da desinformação;
– Lembre-se de que a fonte de uma informação não é necessariamente a pessoa que a compartilhou com você. O fato de um amigo ou familiar próximo repassar algum conteúdo não é garantia de veracidade;
– Pergunte-se se a informação recebida tem evidências, ou seja, traz dados suficientes para mostrar que é factível ou dá elementos para você ir atrás de outros detalhes;
– Caso receba uma mensagem relatando um acontecimento extraordinário (sobre uma onda de milhares de imigrantes chegando ao país, por exemplo), veja se veículos jornalísticos já estabelecidos estão reportando a notícia.
Além do olhar mais crítico para o conteúdo em si, é importante compreender as engrenagens que permitem a circulação das informações. Ferramentas de busca na internet, por exemplo, contam com algoritmos de recomendação que selecionam quais materiais serão apresentados e priorizados em uma lista de resultados.
Aplicações de inteligência artificial estão transformando (ainda mais) esse cenário, ampliando sua complexidade. Zelar pela integridade da informação será mais necessário do que nunca.
(Foto: Charlotte May/Pexels)