Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Investigação analisou dados de DNA, crânio e pelagem de morcegos de coleções de 15 museus ao redor do mundo
- A espécie Vampyressa villai pesa oito gramas e tem 50 milímetros de comprimento
- Espécie de morcego habita o sudoeste do México, país com a maior quantidade de espécies de morcegos endêmicos das Américas
Uma das menores espécies de morcegos que comem frutas acaba de ser descoberta pela ciência. Batizada de Vampyressa villai, a espécie encontrada no sudoeste do México foi descrita por pesquisadores brasileiros das universidades federais de Viçosa (UFV) e da Paraíba (UFPB), com colaboração de cientistas da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), em artigo publicado na revista científica “Journal of Mammalogy” na quinta (29).
A Vampyressa villai tem pelagem amarela, pesa cerca de oito gramas e é do tamanho de um beija-flor, com 50 milímetros. Ela é parecida com as espécies brasileiras Vampyressa pusilla e Vampyressa thyone, suas parentes próximas, e habita florestas tropicais dos estados mexicanos de Oaxaca, Guerrero e, possivelmente, Veracruz. O animal faz parte do gênero Vampyressa, que se distribui do sudoeste do México até países da América do Sul, incluindo a Bolívia, a Argentina e o Brasil.
Essa ampla distribuição geográfica, inclusive, prejudicou o estudo de morcegos do gênero, pois era difícil montar uma estratégia de coleta de animais em diferentes territórios, segundo pontua o estudo. Para descrever a nova espécie, a equipe de pesquisadores visitou 15 museus ao redor do mundo em busca dos poucos indivíduos de morcegos coletados – entre eles, o Museu Americano de História Natural, em Nova York, o Museu de História Natural, em Londres, a coleção nacional de mamíferos da Universidade Autônoma do México e, no Brasil, o Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A espécie Vampyressa villai havia sido identificada, inicialmente, como Vampyressa thyone, uma espécie de morcego descoberta em 1909 — e os primeiros espécimes da espécie nova foram registrados em 1965. Dados de DNA e análises de características do crânio e da pelagem de 261 morcegos adultos do gênero Vampyressa permitiram diferenciar o villai de outras espécies e questionar essa classificação anterior.
O pesquisador da UFV Guilherme Garbino, co-autor do estudo, explica que a descoberta de uma nova espécie de mamífero é surpreendente. “Como os mamíferos são o grupo de vertebrados mais conhecido, espera-se um número relativamente menor de espécies novas se comparado, por exemplo, a peixes e anfíbios”.
O fato de ser um morcego do grupo de espécies Vampyressa também surpreendeu os pesquisadores, já que as últimas espécies haviam sido descobertas em 1909 pelo britânico Oldfield Thomas (a espécie Vampyressa thyone) e, antes disso, em 1843 pelo alemão Johann Andreas Wagner (a espécie Vampyressa pusilla). “Em 2014 e 2021 houve novas espécies de Vampyressa, mas eram de outro grupo, de montanhas”, comenta Garbino. Com essa nova descoberta, agora o Vampyressa tem seis espécies conhecidas pela ciência.
A região em que a Vampyressa villai ocorre é bastante restrita: uma faixa no oeste do México que virou destino turístico nos últimos anos, como é o caso da cidade de Acapulco. Por isso, Garbino ressalta a necessidade de estratégias de conservação na região. “Apesar de ser bem menor do que o Brasil, o México é um dos países com mais mamíferos no mundo, o que o consolida como hotspot da biodiversidade”, destaca o pesquisador.
Agora, os estudiosos querem investigar se existem outras espécies de morcegos “escondidas” em espécies já descritas e, também, explorar a presença do gênero Vampyressa em áreas do Brasil, coletando dados destes animais.